sexta-feira, fevereiro 11, 2005

as reformas

Acabo de ler o fantástico texto de António Barreto do suplemento que vos falei. Só o facto de ser sociólogo já ajuda numa coisa a meu ver importantíssima: consegue analizar a situação do país, através de uma exposição da mesma ao longo das últimas décadas, sem referir nomes de partidos, líderes, governos ou outros protagonistas políticos. E é o bastante para abrir caminho a uma análise do essencial e do que, à parte da guerra política, é mais ou menos consensual.
Deste artigo lanço, a vós e a mim mesmo, esta questão: dada a urgência das várias reformas no nosso país, qual é o maior entrave à realização das mesmas - incompetência dos governantes, falta de vontade, falta de dinheiro?
Analisando as reacções dos vários partidos temos, a meu ver, dois tipos de atitudes, e infelizmente nenhum deles corresponde ao que eu acho que seja o mais adequado, se assim se pode chamar. O primeiro é o que predomina nos partidos de esquerda (PS incluido) caracteriza-se por uma espécie de esquizofrenia responsável, mas demasiado nervosa e, por isso pouco segura dos passos a dar nas matérias reformistas. O outro banha os partidos de direita com a tranquilidade coisa-e-tal porque tudo é o que vêm fazendo e defendendo há anos, sem grandes preocupações, porque que interessa é ganhar votos e, principalmente, as eleições.
E critico ambos por isto. Em primeiro lugar acho que não há reforma que seja A solução, nem reformas que sejam As soluções, e em segundo, quem nada faz cada vez merece menos a atenção e o respeito dos cidadãos, o que faz, na prática, com que os cidadãos se interessem cada vez menos pelos problemas do país, que são os seus próprios problemas. Não vale a pena apostar tudo e de uma só vez nas melhores reformas quando na prática se mostar que as não são, e depois se cair em pânico num vazio de ideias, ou se empatarem mais uns anos a atirar culpas para cima uns dos outros. Importa antes reformar de uma forma gradual, sem esquizofrenias, mas sem laxismo, porque nada cai do céu. De uma forma gradual porque os resultados das melhorias de cada sector influenciam de um modo positivo os outros. Exemplo: melhor educação conduz a mais cultura, cultura de hábitos, cultura cívica, que por sua vez conduz a melhor alimentação, melhor saúde, menos idas ao médico, menos filas de espera, melhor serviço de saúde; e, se quiserem, com mais saúde e menos vícios trabalha-se mais e melhor e aumenta-se a tão almejada produtividade. É tão simples como isto. O que vejo, no entanto é um PS e um BE esquizofrénicos, e um PSD e PP a "curtir" a campanha com o ego no céu. Honrosa excepção feita à CDU que, com a serenidade do seu novo líder, consegue manter os pés firmes e assentes na terra.
Portanto, e voltando à questão inicial, as reformas não avançam, a meu ver, por falta de distancimento da vida política, por falta de análise global e social que permita chegar à essência dos problemas de uma forma tranquila, sem fanatismo por défices ou outro tipo de "choques".

João Bateira