domingo, junho 11, 2006

coisas de amanhã



60.
Outros poetas e outras FILOSOFIAS?
O Percalço na tese.
A prova que a tese existe é o Percalço e é o Percalço que torna inexis-
tente a TESE.
A existência inexistente não existe.
A inexistência existente existe.
Gosta mais dos pés ou das mãos?
Depende. O Coração é VARIÁVEL.
Depois da Morte, sim, os GRÁFICOS FICAM inválidos. Não há
VARIAÇÃO.
Ainda mais? SIM.
Jogar às cartas com o corpo e fazer do corpo o Acaso que surpreende
os BATOTEIROS.
Quem engana quem?
Os olhos dos outros escravizam a poética do Músculo.
Quando começa a poética?
a poética começa quando imaginamos que os outros são cegos.
A exibição?
A melhor exibição é perante os cegos, o corpo vem lá de dentro cá
para fora, e traz a NOVIDADE.
O FIM?
Quando disseram que a Alquimia era uma FARSA e esqueceram que
tudo o que não é Alquimia também é uma FARSA.
O que é que não é FARSA?
O que impede a MORTE.
O corpo que dança pode impedir a morte?
Não. Tudo é FARSA. Mas o corpo que dança pode obrigar os OUTROS
ao desejo de impedir a Morte.
Uma explicação?
O Prazer é muito mais baixo que o Desejo.
O Desejo é alto, é o que não se toca, queremos TOCAR.
O Prazer é baixo, é o que se TOCA
Uma definição rápida?
O Desejo é uma Prateleira do Céu.
Outra definição?
O Céu é uma prateleira de deus.
Outra ainda?
deus é uma prateleira do homem.
Uma correcção?
deus pode ser uma prateleira do homem.
uma indicação final?
O início.
a alma?
a indicação final.
Coreografias?
ocupar espaço antes dele nos ocupar.
O amor?
não respondo à Ciência, não sou capaz.
O amor?
a ciência a grande Ciência.

Gonçalo M. Tavares
"LIVRO DA DANÇA"
Assírio & Alvim

[respeitei as quebras de linha, talvez de uma forma um pouco ingénua, mas com o intuito de transcrever fielmente o poema de acordo com a edição referida]