segunda-feira, março 26, 2007

Portugal - Ontem, Hoje e Amanhã

Duas notícias, a mesma preocupação: quem somos, de onde vimos, mas principalmente, para onde vamos?

Vejamos a primeira:
«António de Oliveira Salazar foi a personalidade mais votada no programa "Os Grandes Portugueses", cuja final foi transmitida pela RTP ontem à noite e se prolongou pela madrugada. O líder do Estado Novo e a figura mais polémica entre os 10 finalistas foi o mais escolhido com 41% dos votos, superando Álvaro Cunhal, que ficou na segunda posição com 19% dos votos e Aristides de Sousa Mendes, o terceiro classificado, com 13% dos votos do público».

A primeira análise é: não foi uma luta renhida. Nada disso. Foi um banho de bola. Mas mais que a percentagem, importava saber os números dos votos, saber quantas pessoas votaram no total. Só assim será possível quantificar este “problema” nacional.
Em segundo lugar, o que fica deste programa é que as pessoas têm uma tendência para engrandecer os feitos mais recentes. Só assim se percebe que em Inglaterra tenha ganho o Churchill, em França o De Gaulle e em Portugal o Salazar. Tudo lideres do século XX. Todos os três países tiveram uma Grande História. Todos tiveram grandes líderes em séculos passados. Lembro-me logo do Napoleão e/ou da Joana D’Arc. Mas nenhum desses feitos foi valorizado. Ao invés, prevaleceu a memória curta e imediata.
Em terceiro, pergunto-me o que seria em termos de política internacional se na Alemanha tinha ganho o Hittler ou na Itália o Mussolini?
Em quarto lugar, a aparente aceitação do Grande Português de todo o sempre sem qualquer contestação, faz de nós um país de brandos costumes? De memória muito curta? Ou com grande capacidade de desculpabilização?
Em quinto lugar, em face deste resultado, sendo o Salazar o Grande Português e uma vez que os referendos estão na moda (veja-se e ouça-se Santana Lopes e o OTA), proponho também a realização de um novo referendo: Se o Salazar é o Grande Português de todo o sempre, valerá a pena continuar a celebrar o 25 de Abril de 1974? Sim ou não?

A segunda notícia, encontrei-a na versão on line do jornal Correio da Manhã:
«A lista X concorrente às eleições para a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que decorrem hoje e amanhã, é alegadamente patrocinada pelo Partido Nacional Renovador (PNR). Este grupo é constituído por nacionalistas que perfilham os ideais neonazis, como a supremacia da raça ariana (branca)
A denúncia circula na internet e segue-se a uma exibição de força no dia 15 de Março durante a qual “cerca de 40 skinheads estiveram na Faculdade e tentaram impedir os estudantes de pintar um mural antifascista”, alusivo ao 25 de Abril.Noutro site, denunciado no mesmo comunicado, os nacionalistas, que usam a bandeira do PNR, congratulam-se com o “acontecimento único” e nunca visto “há mais de trinta anos”, numa referência ao sucedido a 15 de Março: “Tiveram [sic] presentes 60 nacionalistas para dar ânimo aos universitários parasitas e deprimidos.” ….. Rui Arala Chaves»

Nem sei se vale a pena comentar esta notícia… Apenas uma ideia: Se o PCP, PSD, PS e CDS, enquanto partidos políticos constitucionalmente legalizados, utilizam as associações de estudantes para manipular e instrumentalizar, porque razão é que o PND, enquanto partido político constitucionalmente legalizado também não o poderá fazer?

Uma última certeza: se hoje sou português sei que se deve, desde logo, ao Afonso Henriques. Se em tempos fomos uma super potência nacional, sei que se deve a outros tantos grandes portugueses. Se escrevo em português, também se deve a outros grandes portugueses. Mas também sei se escrevo o que escrevo, de certeza que NÃO se deve ao Grande Português, porque por ele, todo este texto levaria um risco azul da censura.