segunda-feira, dezembro 26, 2005

Presidenciais II

Foram apresentadas 13 candidaturas à Presidência da República, das quais se destacam 5: Alegre, Cavaco, Jerónimo, Louçã e Soares.
Destas 5, apenas 3 têm possibilidade de passar à segunda volta: Alegre, Cavaco e Soares.

Certo é, já, que Cavaco ou ganha à primeira, ou passa à segunda volta. Até aqui, nada de novo.
O dia das eleições vai esclarecer duas coisas: foi Alegre ou Soares quem teve mais votos? Os votos à esquerda obrigam Cavaco a uma segunda volta (na qual, é bom não esquecer, a vantagem dele cai a pique)? Ainda nada de novo.
A reflexão que eu aqui queria fazer era a seguinte: qual a diferença essencial entre ser Alegre ou Soares a passar à segunda volta (admitindo que haverá uma)? Ou então, mesmo que não haja segunda volta, é indiferente o nome do candidato que fique em segundo lugar? Parece-me que não.
Em minha opinião, quando votamos para a eleição do Presidente da República, elegemos um homem, elegemos um símbolo.
Ao contrário do que acontece com as legislativas - em que se vota um programa de governo, em que se votam ideias, projectos, planos, reformas legislativas - quando elegemos um Presidente da República, elegemos uma pessoa, e mandatamo-la para garantir o funcionamento do Estado e o cumprimento da Constituição.
O que Alegre tem de verdadeiramente diferente em relação a Cavaco e a Soares é o que representa. Alegre foi o primeiro a trazer para a vida política nacional uma imagem e uma atitude diferente. E sublinhe-se nacional.
Pela primeira vez desde a extinção do MFA, existe alguém que se lança numa candidatura nacional sem o apoio de máquinas partidárias. Esta independência, sem mais, dá força à democracia.
Quando alguém ironizava, dizendo que não percebia como podia Alegre querer representar a inovação e o rejuvenescimento da classe política, quando ele era deputado desde o 25 de Abril, eu lembrei-me da velha frase: se o crítico rezingão fosse capaz de perceber as asneiras que dizia, então já não as dizia.
A diferença não está nos "jubilosos 70 anos" (Soares), mas na capacidade de montar uma campanha nacional vinda da vontade de pessoas descomprometidas.
O que Alegre representa é uma incipiente nova faixa populacional; representa aqueles que querem participar nos assuntos públicos, mas não têm temperamento ou paciência para as corjas partidárias. Os desalinhados não são, neste caso, um grupo minoritário e mais ou menos marginal; em parte, isto deve-se ao próprio candidato.
Que é um movimento incipiente, todos sabem; se vai sobrar alguma coisa depois da segunda volta (sou optimista), ninguém sabe. Mas a diferença já está feita.

2 Comments:

Blogger Freddy said...

Alegre é de facto um bom símbolo e alguém que "não nos deixaria ficar mal" mas tem um problema. É um romântico esquerdista...
E desde q n ganhe o Soares...

28/12/05 17:49  
Blogger Me, Myself and I said...

Desligar Manuel Alegre do partido de que sempre fez parte é uma operação bastante engraçada...pq impossível, por muitas voltas que se dê ao texto.E se de facto é o homem, o símbolo, que é eleito, ao menos que ganhe alguém capaz de trazer algo de realmente novo e de preferência tenha tido um contacto mais priveligiado com os meandros do poder e com o mundo que o rodeia, para além da sua visão poética e individualista e, acima de tudo, saiba pôr de parte o sentimentalismo pseudo-poético-revolucionário-utópico em prol de um bem maior e demonstre ter a capacidade de gerar consensos usando de ponderação, algo que alguém que afirma sem hesitações que demitia o Governo caso se desse a privatização das Águas de Portugal com toda a certeza não revela.

5/1/06 15:27  

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