sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Dark was the Night



Alguém se lembra do álbum "Red Hot & Rio"?
Pois bem... a Red Hot continua bem viva e a sua luta contra a SIDA infelizmente mantém-se urgente e actual.
Mantendo o mesmo conceito de juntar estrelas por uma causa, a Red Hot mais uma vez consegue reunir um lote de artistas de luxo e, intencionalmente ou não, traça um retrato bastante abrangente do melhor que a cena indie dos States nos tem dado nos últimos anos, incluíndo como Bon Iver, Feist, Arcade Fire, Cat Power, Anthony Hegerty (o mesmo dos Anthony and the Johnsons), Sufjan Stevens, Iron & Wine, os próprios The National e tantos outros, todos eles generosamente contribuíndo com temas originais.
A ideia nasceu da colaboração entre John Carlin (um dos fundadores da Red Hot) e os gémeos Dessner dos The National, que trabalhavam no seu escritório de design na Big Apple. Entretanto dedicados por inteiro à sua música, os Dessner, ao longo das suas tours e concertos, acabaram por travar conhecimento com muitos dos participantes neste álbum, e aceitaram compilá-lo e produzi-lo.
Os resultados são excelentes.
Logo na 1ª faixa encontramos os quase estreantes Dirty Projectors com David Byrne a dar o tom para a festa. Segue-se uma sequência de músicas um pouco mais calmas e melancólicas, mantendo sempre a fasquia bem alta, com Jose Gonzalez e The Books a revisitarem o clássico de Nick Drake "Cello Song", seguidos pela bela voz de Feist, Bon Iver, Grizzly Bear, até que chegamos a "So Far arround the Bend", em que os The National mostram porque são um dos porta-estandartes desta geração que aqui se faz ouvir.
O tom mais morno mantém-se até final, fechando o 1º cd a desconcertante e genial "You are the Blood" em que Sufjan Stevens simplesmente dá largas a toda a sua criatividade e conduz-nos numa verdadeira odisseia de mais de 10 minutos. Só ouvindo para se acreditar...
O 2º cd tem uma toada mais festiva com Beirut e os regressados Arcade Fire, juntando-se a gente como Stuart Murdoch dos Belle and Sebastian, Dave Sitek dos Tv on the Radio, Cat Power ou Andrew Bird. Aqui as músicas que brilham mais alto são "Hapiness" de Riceboy Sleeps, que nos leva em braços a caminho da tranquilidade e a melancolia regada com distorção de "When the road runs out" de Blond Redhead & Devastations.
Pontos muito positivos: o facto de cristalizar num só álbum uma voz musical tão distinta e promissora e a capacidade de a fazer acompanhar de nomes representativos da geração anterior que lhe serviu de inspiração.
Pontos menos bons: o falta de arrojo nas canções, sendo a opção predominante a voz e a guitarra, embora a qualidade nunca se perca.
Uma excelente montra para a descoberta de que se vem a fazer de melhor na música e ao mesmo tempo uma forma simbólica de contribuír para uma causa que, infelizmente, tanto precisa de todo o apoio possivel.

Ficam algumas das pérolas desta compilação.