quinta-feira, julho 14, 2005

Há coisas intrigantes

Os senhores de sandálias e meias são intrigantes.
As senhoras que falam connosco no autocarro sem razão aparente são intrigantes.
Os senhores que passeiam com um auricular na rua a falar são intrigantes.
Os senhores que passeiam com um auricular na rua a falar e fazem gestos explicativos são ainda mais intrigantes.
As pessoas que ainda gostam de fogo de artifício como “uma macumba qualquer” são intrigantes.
O MacDonalds ter uma menina a perguntar se “não quer provar a nossa nova Macpita?” é fantástico!
Aquele senhor preto (Daniel qualquer coisa) que faz reportagens para os programas cor-de-rosa da Sic é deveras intrigante.
As prateleiras de saída dos supermercados terem sempre produtos sazonais é intrigante.
As prateleiras de saída dos supermercados terem agora geladeiras, como se alguém com um carrinho cheio se fosse lembrar “e se eu abdicasse de metade do carrinho por aquela geladeira que oferece um protector solar e uma ventoinha”, são intrigantes.
Um filho de indiano com chinesa nascido na Madeira é confuso.
Mas há um fenómeno que ultrapassa a esfera do intrigante. Um fenómeno que começou por ser engraçado, depois irritante, depois intrigante, depois case-study e agora se mostra assustador. E esse fenómeno é a utilização casual de frases publicitárias como elemento humorístico / desinibidor social. Aqui há uns anos, naquele tempo em que tudo o que os nossos pais fazem nos parece brilhante, ouvir frases como “é aquela máquinaaaaa” ou “frio, eu não tenho frio, uso bla bla bla” ou ainda “las chicas mas calientes de la tele” (crise de meia idade), era motivo de galhofa durante uns bons minutos. Tentávamos repeti-las e pensar em bons momentos para as introduzir nas conversas. Com o passar do tempo fomo-nos apercebendo que não era assim tão giro meter um “branco mais branco não há” em tudo o que é conversa. Principalmente em escolas dos subúrbios. O grande problema é que agora, na casa dos vinte, o pessoal regressou aos desinibidores publicitários. Havia coisa mais cretina, aqui há uns tempos, do que sempre que dizíamos “ah” alguém respondia “onde é que está o pão”? Havia. O sujeito ao lado que dizia “o leite, o leite”. Agora a frase da moda é outra. E talvez seja a mais irritante delas todas! É a já mítica “é já a seguir! É que é já a seguir!”.
Nunca vos aconteceu estarem com alguém que repete esta frase até à exaustão? Do estilo “Olha o Borges! Então meu! Tás porreiro?” “Sim, e tu?” “Sim vou trabalhar. Tu não vais?” “Sim! É já a seguir!”. Desesperante não é? E depois nós forçamos o sorriso e vamos a dizer um “sab…” e o Borges “É que é já….” E aqui nós ficamos a olhar para a boca do Borges à espera da conclusão e a pensar “se tivesse aqui uma almofada livrava-te do sofrimento” quando o Borges termina “a seguir”. Desesperante! Depois tentamos manter o sorriso e o tipo dá-nos uma cotovelada, abana a cabeça com um sorriso de orelha a orelha e suspira “Ahhhh, este anúncio é demais. Não conheces?” Nós bem tentamos dizer que sim e que, realmente, é qualquer coisa de excepcional. Mas o Borges não perdoa e repete a frase, desta vez com o movimento de braços e pescoço do senhor do anúncio, aquele movimento que faz lembrar alguém a apanhar uma descarga eléctrica no coxis. O que fazer aqui meus amigos? O melhor nestes momentos é perguntar “Mas olha lá, que produto é que é publicitado aí?” Foi o que fiz e resultou. O Borges ficou a pensar para si enquanto repetia com mímica labial o anúncio. Eu retirei-me e fui para casa a pensar como se pode ser tão ridículo, enquanto assobiava o Stucomat é uma grande tinta, Stucomat é da Robialac.

2 Comments:

Blogger jb said...

diga bom dia com mokambo, mokambo, mokambo! la la la la la, la, la la la! mooookaaaamboooooo, moookaaaaambooooo!

16/7/05 17:07  
Blogger salomé said...

Essa parte da publicidade à Robbialac era desnecessária...

ass: dep.rh da FABYLAK

10/8/05 11:25  

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