segunda-feira, março 02, 2009

HUNGER



Vi Hunger há umas horas e ainda não me saíu da mente.
Não consegui digerir tudo o que passou pelo ecrã...
É um dos melhores filmes que vi até hoje. Isso sei. E pensar que foi uma estreia na realização de Steve McQueen (artista plástico, também co-argumentista juntamente com Enda Walsh) torna tudo ainda mais surpreendente.
Inúmeras peculiaridades tornam-no singular.
A quase ausência de falas foca-nos no sub-texto e começa por captar a nossa atenção, lentamente, no essencial, algo cada vez mais raro numa área onde o lema "less is more" deixou há muito de ser uma referência.
A violência física e visual, por vezes extrema mas nunca gratuita, repelem o nosso olhar e chocam pelo realismo, pela ideia de que tamanha barbárie realmente aconteceu numa das democracias de referência da Europa e do Mundo.
A completa despreocupação em tomar partido, contextualizar exaustivamente ou fazer qualquer tipo de statement político ou ideológico, tratando o espectador como ser pensante e minimamente inteligente, tornando-o parte e testemunha e julgando por si, é talvez o maior atractivo deste filme. Aqui Bobby Sands (deputado do Sinn Fein preso por posse de armas e condenado a 12 anos de prisão), encarnado por um impressionante Michael Fassbender, é apenas mais um, que tem consigo uma fé inabalável nas suas convivções e a força física e de espírito para lutar até ao limite por tudo o que elas representam.
É um filme com diversas fases, extremamente sensorial, directo, frontal, sem qualquer tipo de compromissos e concessões ao politicamente correcto, ao asséptico que caracteriza o mainstream e muito do cinema dito independente que prolifera por essas salas.
Poético na sua imagética, é impossivel gerar indiferença.
Os planos, a excelente sonoplastia, a fotografia, o argumento...o todo conjuga-se no objectivo reduzir à essência tudo o que nos chega, criando um equilíbrio entre a contemplação e a acção, o Ser e o Fazer, a alma e o corpo.
O resultado é poderoso, sublime, inesquecível.
Um murro na mesa.
Um murro no estômago.
Uma obra-prima que nos relembra porque gostamos tanto de Cinema e lhe chamamos ainda Arte.


O trailer



O realizador