sábado, abril 02, 2005

as últimas horas (?)

A não-renúncia ao cargo de Santo Padre levanta várias questões. Por um lado ouvem-se Padres realçar que assim o Papa mostra ao mundo que a morte faz parte da vida dos cristãos, que nos dá um exemplo digno de velhice e de como esta deve ser encarada condignamente. Quais serão as consequências deste "carregar da cruz", que, apesar de "cruzes" em nada comparáveis, se quer a toda a força tirado do exemplo de Cristo? Por outro lado outra questão: e se a pouca saúde de Karol Wojtyla se deteriorar muito lentamente ou estabilizar mesmo num estado comatoso que se prolongue por mais alguns anos, que consequências isso tem? Teríamos nós transmissões televisivas com 12 horas por dia de directos de Roma com clero e médicos no estúdio em diárias profecias e sessões de tele-medicina? Como viveria a Igreja com um chefe que passaria rapidamente de grande lider a doente coitadinho de quem se teria muita pena? O que aliás, de certo modo, já tem vindo a acontecer quando na maioria dos discursos do padres portugueses se nota uma tónica defensora do que João Paulo II fez e foi, que, mesmo sem que haja intenção, denota que o que defendem não é afinal inequívoco, claro e grandioso aos olhos de todos, caso contrário, seria dispensada a mesma defesa. A presença física de Wojtyla na terra como Papa, a insistência no caminho até ao fim como Sumo Pontífice, as 133 viagens, as 31 (?) voltas à terra que estas representam em quilómetros, são aspectos impressionantes demasiado concretos, demasiado visíveis, muito agradáveis às multidões de crentes que fazem hoje a Igreja. Tão visíveis como o "reino dos céus" ou "as trevas" que ainda ouvimos dos párocos aos Domingos: a prova de que a Igreja, com o seu Papa, tem ainda um longo percurso a percorrer no sentido da espiritualidade. Para que os católicos deixem de ser perseguidos pela oposição ao uso do preservativo, mas pela mensagem suprema do amor que Cristo ensinou, como verdade que afronta por ser pura e brutalmente inequívoca.