segunda-feira, março 02, 2009

The Wrestler


Realizado por Darren Aronofsky
Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood

Randy "The Ram" é um lutador de wrestling outrora nos píncaros da fama e da glória, algo que Aronofsky faz questão de nos mostrar com algum detalhe logo no genérico inicial.
Encontramo-lo velho, falido e só mas, sacrificando a sua já débil saúde, teimosamente ligado e dependente do que sente ainda dar sentido aos seus dias: lutar, fazer no ringue o que há muito já desistiu de tentar na vida.
O cenário é a América dos subúrbios (neste caso New Jersey), escondida de qualquer cartão de visita da tão propalada "terra das oportunidades", onde participa em combates realizados em salas pequenas, apenas para sentir o apoio dos poucos que ainda o lembram e conseguir uns míseros trocos que mal chegam para a renda e os medicamentos.
Com uma reedição do combate que 20 anos antes o tornara famoso, sente uma nova oportunidade de voltar ao esterlato, mesmo que apenas por uma noite, intensificando ainda mais a sua rotina de treino e dedicação à única companhia a que se manteve fiel em toda a sua vida.
Mas um precalço leva-o a questionar o seu percurso, conduzindo-o a um regresso a feridas que deixou abertas no passado e que urge tentar sarar, antes que o tempo o derrote no combate para manter a vida.


"I´m an old broken down piece of meat. And i´m alone. And i deserve to be all alone.I just don´t don´t want you to hate me"


Mickey Rourke regressa aos grandes palcos e Aronofsky proporciona-lhe o papel de uma vida. É um daqueles casos em que temos a sensação que realizador e actor principal estavam destinados a encontrar-se e que Rourke foi sem dúvida a 1ª escolha.
Mas na realidade não foi isso que sucedeu.
Como Rourke revelou em diversas ocasiões, Aronofsky contactou-o mas, consciente da sua fama de "bad boy" destrutivo e intratável, aceitou trabalhar com ele com a condição de que não lhe poderia pagar e de que nunca aceitaria que ele o desrespeitasse em frente à equipa, isto caso conseguisse angariar o dinheiro necessário para concretizar o filme, tarefa dificultada a partir do momento em que Rourke fosse parte do elenco.
A dupla resultou na perfeição, com Aronofsky a defendê-lo contra tudo e todos e Rourke a ter inclusivé liberdade para fazer adaptações no guião.
Os resultados não tardaram. O triunfo auspicioso do Leão de Ouro em Veneza foi o início de um percurso memorável no último ano, com a aclamação unânime da actuação de Rourke e de um filme singular, pela sua frontalidade e honestidade.
É um caso típico do que os anglo-saxónicos apelidam de "art imitating life", já que é demasiado óbvio o paralelo entre o protagonista e homem por detrás dele. Ambos trilham o mesmo caminho de procura do tempo perdido e do potencial dos tempos em que estavam no topo, mantendo a perserverança e, a cada passo novo, recuperando a auto-confiança.
O filme transcende a realidade dos bastidores do wrestling e foca-se antes na natureza humana, no imenso manancial de tenacidade que cada um de nós, mais sonhadores e solitários como "The Ram" ou mais realistas, temos perante uma oportunidade da fazer a vida valer a pena.
Aqui fala-se de um dos sentimentos mais transversais e inevitáveis no Homem, qualquer que seja o seu estado de alma ou a sua profissão: a esperança de dias melhores. E até onde somos capazes de chegar em busca da felicidade, mesmo que esse caminho traga consigo a solidão.

Faltou o Oscar a Rourke. Sobra-lhe talento para muitas nomeações e consagrações futuras.
Mas o regresso triunfal a que todos assistimos, esse ninguém lho tira.