os cartoons heréticos - II
Não se tratou de uma simples caricatura publicada inocentemente. Depois de tomar conhecimento de que vários ilustradores se recusaram desenhar Maomé com medo de represálias causadas por motivos religiosos, e por achar que isso representava uma limitação à liberdade de imprensa, o jornal dinamarquês convidou 40 cartoonistas para ilustrarem o profeta num livro sobre a vida do mesmo. Desses cartoons 12 foram inicialmente publicados pelo jornal. Para além do que o desenho em si representa, isto não será, por si só provocatório?
Temo-nos habituado (e mal) a uma comunicação social imune que se permite impôr como máquina manipuladora de massas, por um lado, e voluntariosa invasora da esfera privada em prole da denúncia justiceira, por outro, sem que a mínima responsabilidade lhe seja atribuída. Não defendo os muçulmanos nem deixo de condenar as violentas reacções que tiveram aos cartoons. Acho, porém, que este acontecimento (longe de um mero episódio) é um bom motivo para as sociedades ocidentais repensarem o papel da imprensa e do jornalista como ser social e cultural com os seus direitos e deveres, e não apenas como profissional permanentemente invocando a sagrada liberdade de imprensa. Ora o homem só enquanto livre poderá ser responsável - não terá então o dever de ser responsável enquanto livre?
Do mesmo modo que as comunidades muçulmanas residentes na europa - e que de forma pacífica reagiram criticamente às caricaturas, serão injustamente associadas à violência e ao fanatismo, também os países europeus, e mais directamente os dos jornais protagonistas da polémica, serão erroneamente vistos como desrespeitadores do mundo islâmico. Há, portanto, injustiças de parte a parte.
Não vale a pena tentar arrumar rapidamente a questão condenando prontamente a violência ou os cartoons. O que está em causa é a convivência pacífica de culturas muito diferentes no mesmo planeta, e isso não tem que ver apenas com liberdades de expressão nem apenas com fundamentalismos religiosos. A análise tem que ser mesmo antropológica e passa, por exemplo, pela definição de "sociedade moderna" e dos seus valores que nós, ocidentais, fazemos questão de reivindicar e afirmar, sem pensar no quanto ofensivo isso pode significar para o mundo do islão, assim como passa pelo reconhecimento dos direitos humanos e do seu respeito por parte dos muçulmanos das sociedades orientais.
5 Comments:
Tu sabes que eu sou um administrador pacífico e que não se deixa influenciar pelas circunstâncias, mas vou ter que te expulsar, eh eh :)
Caros amigos,
Não posso concordar mais com o Carlos...
.P
"Asco Polido e Valente", eram um grande nome de blog, não era?
(jordas, estás expulso)
pois a mim não me podes expulsar
gancho, estás quase expulso. (mais alguém?)
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