terça-feira, janeiro 24, 2006

O fim de um ciclo

Queira-se ou não, o resultado destas eleições anuncia o inevitável fim de um ciclo político e ideológico no panorama social português.
O chamado "soarismo" teve a sua mais pesada derrota de sempre, graças à divisão, inicialmente latente e mais tarde aberta, nas hostes do partido onde nasceu e uma campanha eleitoral mal gerida e, a espaços, bastante agressiva e precipitada.
A Esquerda portuguesa, preocupada em dividir para reinar, com cada um dos seus partidos a querer demarcar o seu território próprio ao invés de procurarem consensos e candidaturas conjuntas com apoios amplos, viu a sua estratégia (ou melhor, a falta dela...) ser punida por um eleitorado atento e cada mais maduro, à imagem da já "trintona" democracia de que são elemento essencial, como ficou mais uma vez demonstrado.
Pela primeira vez desde o fim da ditadura de Salazar foi eleito um Presidente da República de centro-direita (mais centro que direita...), resultado de uma campanha meticulosamente preparada, na qual surgiu, indubitavelmente, como a alternativa mais segura a uma esquerda desorientada e fracturada. Restableceu-se um equilíbrio de forças entre A.R. e P.R. e embora com algumas dúvidas, espera-se que o convívio com a maioria parlamentar venha a ser pacífico, embora participativo...Veremos...
Quanto à campanha em si, foi um pouco caricata, culpa principalmente dos media e afins...
Antes de tudo, um dos candidatos, numa primeira fase (que seria teoricamente de pré-campanha mas, na prática, era já de campanha efectiva) foi posto de parte, quer nos debates televisivos quer nos restantes media, o que revela uma falha bastante grave e algum laxismo por parte de quem tem obrigação de informar devidamente os cidadãos.
Por outro lado, todos os debates televisivos (demasiados, chatos, repetitivos...) se realizaram em período supostamente pré-eleitoral. Compreende-se que estas eleições tenham sido um pouco atípicas, na medida em que completam um ciclo de três actos eleitorais consecutivos bastante próximos, mas tal não justifica estes factos. Esbateram-se as diferenças práticas entre pré-campanha e campanha efectiva e levantaram novos precedentes que, com certeza, servirão de modelo para o futuro.
Quanto ao "choque de titãs" no seio do P.S., o Primeiro-Ministro optou, sabiamente, por separar as águas...O tempo dirá se será essa a vontade de quem o rodeia. Verdade é que Alegre, procurando afirmar-se como independente, mostrou ser mais capaz que o candidato do "aparelho partidário" e a "guerrilha" teve os seus frutos...pelo menos morais. Uma verdadeira postura de Estado e um planeamento mais atempado e cuidado e os resultados com certeza seriam diferentes.
O povo é soberano. A ver vamos se é também sábio...