segunda-feira, fevereiro 13, 2006

os cartoons heréticos - VIII

Caro amigo administrador,

- Longe de mim pensar que aprovarias alguma vez estas formas de violência, ou que aprovarias algum ataque ao sistema democrático. Aquilo que nos distancia é que para mim estes cartoons são eticamente correctos, legítimos, não ofensivos, não desrespeitadores, um dever ético, e para ti estes cartoons representam uma ofensa, um desrespeito, um insulto.

- Por um lado, aceitas que "não faz sentido nenhum" a proibição das representações gráficas, mas por outro consideras irresponsável e ofensivo que alguém que partilhe dessa tua opinião – justamente a de que essa proibição não faz sentido algum – desrespeite essa lei absurda, e desenhe o profeta como modo de veicular uma ideia, uma opinião, uma indignação. Tornas inclusivamente explicito que passarias a ver-me como uma "pessoa pouca respeitadora", com direito a uma "menor admiração" da tua parte se eu me arrogasse a apresentar aqui um cartoon do Maomé. Isto é, seria uma "pessoa pouco respeitadora" se não respeitasse uma lei absurda, que tanto para mim como para ti, não "faz sentido nenhum". Vais-me desculpar, mas não poderei nunca concordar com isto.

- Mas é claro que eu considero o canibalismo uma indignidade, que devemos todos denunciar. Como considero tantas outras coisas, em tantos outras zonas do planeta, uma indignidade não menos desculpável que os actos de terrorismo em nome do Islão. Só não me referi a eles porque o debate centrava-se noutro lugar: nas atitudes de um tipo de civilização em relação à liberdade e à dignidade da pessoa humana, apanágio de uma outra.

- Penso que a tua observação em relação a Nietzsche talvez se adequasse melhor a Russell. Recordo-te que Niezsche fala de Cristo retratado por S. Paulo como um ser "psicologicamente doente", e retrata o próprio S. Paulo como um "imbecil".
De resto, se eu concordo com uma ideia, se considero essa ideia pertinente, não é por ela ser transmitida em forma de um cartoon humorístico de discutível qualidade estética ou se a tenho de ler na forma de um denso tractatus que lhe vou atribuir maior ou menor legitimidade.


Caro amigo Carlos,

- Embora concorde com aquilo que dizes, penso que é pertinente referir ou acrescentar, já agora, que, quanto a mim, o sentimento religioso é algo que não esgota a sua explicação do estudo da história, mas terá raízes mais profundas: na busca do sentido último do ser humano.
A análise história que fazes dos movimentos deste sentimento é muito interessante.

1 Comments:

Blogger Tiago Sousa said...

publicitando um texto de um amigo meu (zalmoxis), a propósito disto tudo (ver texto e comentários):

http://ounoeomultiplo.blogspot.com/2006/02/fundamentalismos-3.html#comments

23/2/06 14:00  

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