sexta-feira, fevereiro 16, 2007

discriminação carnavalesca

Os homens que usam bigode não podem usar bigode falso.

domingo, fevereiro 04, 2007

nim

É curiosa a convicção dos apoiantes do "sim" e dos apoiantes do "não". Não consigo rever-me em nenhuma opção vestindo e defendendo radicalmente uma ou outra camisola. Como se o país precisasse de uma discussão a sério para acordar, todos vemos, ouvimos e lemos e nos informamos para uma argumentação que se tornou obrigatória e de preferência pujante.
Perante a simplicidade de uma pergunta como a que é feita fica a (julgo que não só) minha insatisfação. O "sim" ou o "não" são apoiados por tantas inverdades como verdades por não serem factos consumados. Criativamente adapta-se uma futura realidade e uma futura lei ao que convém. Defendem-se alhos contra bogalhos e quando a argumentação não chega usa-se da força sem se pensar no absurdo da situação. Gastam-se rios de dinheiro em campanhas que não são mais que desinformativas (como é que um outdoor com meia dúzia de frases me ajuda a decidir? é um atestado de burrice a quem se acha que não precisa de muito mais que isso para se esclarecer - ao contrário do simples apelo ao voto). E a questão essencial fica por resolver e vai ficar por resolver: a do aborto. Mas disso ninguém fala.
Por um lado ignora-se o absurdo que é não considerar crime o aborto até às 10 semanas mantendo a penalização se for feito às 10 semanas e 1 dia - se o tempo de início de vida é tão indiferente para estes (já que nunca se pronunciam sobre ele) e se a despenalização é a questão essencial, porque não despenalizar sempre? ; por outro lado há o facto de o conceito de "vida humana" não ser aplicável a um filho resultante de uma violação ou a um filho que venha a nascer com deficiências - não se percebe que conceito de vida é este, e não se percebe porque só agora se ouve dizer que, a esse respeito, não concordam com a lei actual.
Normalmente o absurdo é desconfortável pelo que há que direccionar o debate para algo menos non-sense, algo mais lógico e por isso mais sólido. E se há uma coisa clara que consigo distinguir no meio desta confusão (salvo raras vozes de clarividência brilhante, curiosamente bastante moderadas nas suas tomadas de posição) é o resvalar para o confronto cada fez mais assumido entre católicos e opositores à igreja destes.

João Bateira