quinta-feira, março 31, 2005

para quando o filme?

O argumento está pronto.

«Morreu hoje a norte-americana Terri Schiavo, 41 anos, que estava em estado vegetativo permanente há 15 anos.» in PÚBLICO

De um lado os que defendem a vida. Do mesmo lado os que defendem o sofrimento e a indignidade para uma vida vegetativa (?). Que deus invocarão é que eu desconheço, o Pai de Jesus Cristo não é de certeza. E ainda um presidente (e não um qualquer) que legisla quando lhe convem para resolver casos particulares (!). Do outro lado os pró-eutanásia nos quais me incluo. Do mesmo lado - lamentavelmente - alguns seres sádicos que preferem a morte lenta e penosa à corajosa dose letal. Mais um exemplo a não seguir. Dos EUA, pois claro, onde tantas vezes se confundem Hollywood e realidade de um modo assustadoramente natural.

quarta-feira, março 30, 2005

Despedida

Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.

Eugénio de Andrade

terça-feira, março 29, 2005

do impossível

segunda-feira, março 28, 2005

a negação do fim


O que já aconteceu com os Doors acontece agora com os Queen: mesmo sem os carismáticos líderes, não resistiram à tentação de tournées com um substituto. Quando é que aceitarão o fim como uma coisa boa, com serenidade e dignidade? Queen com Paul Rodgers, a digressão europeia começa hoje...

sábado, março 26, 2005

as coitadices da "direita liberal"

Ele há coisas que não lembra ao diabo. Então não é que a "direita liberal" portuguesa deu-se conta que afinal nunca existiu? Com mil diabos! Primeiro por culpa do salazarismo que a "absorveu" ao defender os mesmos valores (familia, igreja, pátria), e agora por causa dos conceitos "impostos" pela esquerda que a impedem de pensar livremente - o Salazar já desconfiava que fosse mauzito, mas a esquerda...deixa-me chocado!
A sofredora "direita liberal" queixa-se de uma "ditadura intelectual que condicionou a linguagem", nascida no PREC e resultante de uma opinião pública maioritariamente de esquerda. Diz que é preciso uma "divulgação cultural que não seja de esquerda, sem o peso do Maio de 68, do Woodstock, do desconstrucionismo". Rais parta aos drogados da esquerda, aqueles incendiários do camandro!
Mas felizmente já há muita gente nova a pensar "às direitas", "há muitos blogues de direita", há até uma "nova geração de direita não partidária, estrangeirada, de pessoas que estudaram no estrangeiro, anglófona"! Há, vejam só, gente nova que acha "interessante para a democracia, que haja uma expressão de pontos de vista, que as pessoas saibam o que se pensa"!
A "esquerda tirana" provavelmente já terá pedido desculpas pela chatice causada. De facto se tivesse tido mão nos esquerdistas nunca deixaria que os filhos da mãe se multiplicassem a ponto de chegarem a ser maioria. De certeza saberia tratar-lhes da saúde - ou não tivesse o exemplo do controlo demográfico da China, essa grande fonte de inspiração comunista, e de esquerda, portanto! A própria família do Salazar lamentará com embaraço os danos que o antepassado causou à nossa "direita liberal" - aquilo não se faz a ninguém...!
Portanto, meio caminho andado. Para que a "criação" da pobre "direita liberal" se concretize, é só mesmo preciso trancarem-se a sete chaves num sítio qualquer e, por amor de deus (o mesmo deus que tanto gostam de invocar) não se lembrarem de falar à comunicação social, esses estupores que volta e meia, pimba! publicam as suas palavras em forma de verborreias. Safados, pá, e não há ninguém que os ponha na ordem...!

sexta-feira, março 25, 2005

a ciência da Páscoa cristã

Ou como se determina todos os anos o dia da Páscoa. (até quando perdurará esta relação homem-natureza? terá a matemática posto um fim à função reguladora dos astros? serão as civilizações superiores às comunidades índias? não se atormentem, são só perguntas ensonadas...). Bom feriado!

quinta-feira, março 24, 2005

os heróis do Pó

Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
(...)


in "Pó", Pedro Mexia

Um pouco a despropósito, se calhar, mas apetece-me pincelar algumas frases sobre a criação artística, ou a arte, em geral, e a crítica, em particular.
Posso usar como pontos de partida "Um Peixe Fora de Água", de Wes Andersen, último filme que vi no cinema, ou um livro qualquer do jovem poeta/crítico Pedro Mexia, ou a crítica feita a cada um.
Na escolha de um filme ainda insisto (uma espécie de crença) em passar os olhos pelas estrelinhas da Kathleen Gomes (perdoem se estiver mal escrito), do Luís Oliveira e dos outros compinchas do Público, para eventual elucidação ou desempate entre escolhas. Em relação ao filme de que vos falo: 4/5 estrelas. Aposta certa, pensei eu na minha santa inocência. "Um Peixe Fora de Água" é, ao que parece, uma comédia. E uma comédia, achava eu, tem que ser inequívoca, senão passa a ser uma "comédia inteligente", que é qualquer coisa que nos faz rir porque nós queremos muito que ela nos faça rir e não porque o faça na verdade, espontaneamente. Quem esteja de mau humor e procure a "comédia extraordinária" para levantar o ânimo, esqueça: ao contrário das boas comédias, esta não funciona. Música: David Bowie. Realização: planos fantásticos, muita originalidade. Personagens: nem ficção, nem realidade. Actores: doeu-me ver o Bill Muray e a Cate Blanchet perderem pontos em papeis tão fraquinhos...mas nota-se que se esforçaram. Argumento: zero (digo eu, claro). Pelo que só posso adivinhar que as 4/5 estrelas são atribuídas pela carga pseudo que o filme tem e que as comédias chamadas ligth (Loiras à Força, Um Sogro do Pior, Alguém Tem Que Ceder, etc) não têm. Claro que a soudtrack bowieana contribui bastante, e a originalidade por si só supera dúvidas sobre a designação de comédia. Enfim, uma frustração...
Em relação a Pedro Mexia. Fiquei assustado ao ler um artigo do Professor Eduardo Lourenço que falava (entre outras coisas) de Mexia como um dos críticos jovens mais geniais da actualidade. Igualmente espantado quando vejo Pedro Sena Lino escrevendo no "Mil Folhas" sérias linhas sobre a poesia de P.M., num trabalho crítico que eu considero louvável. Eu juro que tento mas não consigo perder mais que dois segundos a tentar peceber o que é que de novo e de bom P.M. põe nos seus textos...
E tudo isto me assusta. Assusta-me não conseguir perceber (devo ser eu, concerteza) nada de realmente único em certos filmes ou livros. Porque não sou especialista, talvez. Mas então não é a arte universal e acessível a todos? Pode não se gostar, mas o que é bom é inequivocamente bom. Aos olhos do supra-culto citadino ou do homem-do-campo. Assusta-me premiar-se a forma pela forma, associar-se automaticamente a originalidade à genialidade. Assusta-me que se construam génios a partir do exterior, quando, muitas vezes, nem sequer os prórios tiveram tal intenção, numa ascensão involuntária. Assusta-me que se contruam pessoas e "obras de arte" na ilusão de uma falsa busca interior da verdade. Assusta-me que a arte seja hoje fruto de uma construção e não de uma criação. E que essa construção seja egocêntrica em vez de introspectiva. De fracos não reza história, é certo. Mas assusta-me pertencer ao tempo do qual, com tão poucos "valentes", somente ficarão para a posteridade estes único e ímpares "heróis do Pó".

quarta-feira, março 23, 2005

Sócrates o sério

Com a proposta de referendo sobre o aborto Sócrates mata dois coelhos de uma só vez: antecipa-se ao Bloco de Esquerda não se deixando por este azucrinar ad eternum, roubando-lhe a bandeira de campanha (desvirtuando-o, de certa forma); e cedo sacode o sapato livrando-se da pedra do referendo que tantos calcanhares já chateou e, espera-se, não mais chateará.
Nem a morte dos agentes da PSP, nem a seca, nem a Bombardier, nem tudo ao mesmo tempo parece perturbar a determinação do novo governo. Afinal o Sócrates mau gestor de imagem, antipático aos media, nervoso e inseguro perante as câmaras, mostra-se um bom líder capaz de coordenar bem a sua equipa, ou de, pelo menos, transmitir aos seus colegas a determinação e a coragem com que mostra querer resolver os problemas. Por isso não lhe será atirada à cara a "sorte" que é a revisão do PEC. Digamos que é uma sorte prevista e com o mérito de quem governa com seriedade. Logo na tomada de posse (alguma precipitação, dirão uns) duas intenções muito concretas e um ar sério (sempre o seu ar sério, é certo) de quem sabe pelo que todos passamos e não tem tempo a perder. Já tivemos Durão e Santana, já perdemos as ilusões sobre os sorrisos que cada um exibia.
Aprecio esta good vibration, mas espero (ainda é cedo). Agora a obsessão é a do rigor, da seriedade, do cumprir e fazer cumprir. Espero, então, que na seriedade exista espaço para a humanidade. Que se ouça falar em I&D e em cultura ao mesmo nível. Que se não resolvam os problemas sociais com a obstinação de um Rui Rio (cuja teimosa é tão parecida com a de Sócrates). Uma coisa é certa: no novo governo não existem superministros-das-finanças-nem-de-coisa-nenhuma que concentrem em si e na sua pasta a atenção (e o sacrifício) do país e do seu líder. Porque parece ter-se percebido que as mudanças têm que ser feitas a nível de atitude política (com seriedade que credibilize a classe e recupere o interesse aos portugueses) muito mais que de forma pontual em centro-descentralizações e outras manobras acrobáticas que caracterizaram os primeiros dias dos governos passados.

terça-feira, março 22, 2005

à poesia no dia de ontem

A magnólia

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,

um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.

Luiza Neto Jorge

sábado, março 19, 2005

2 anos

















terça-feira, março 15, 2005

As primeiras medidas...

O novo Governo, cuja tomada de posse foi das mais rápidas e discretas de que há lembrança, já começou a trabalhar.
No discurso de tomada de posse (Ver www.publico.clix.pt, dia 13 março), Sócrates avançou 2 medidas a tomar a curto prazo: a comercialização dos medicamentos de venda livre em outros locais que não as farmácias e a realização do referendo popular ao Tratado Constitucional Europeu na mesma data das eleições autárquicas.
OS farmecêuticos insurgiram-se contra a primeira medida anunciada, como seria previsível, que só pecou por tardia e faz o mais perfeito sentido que seja posta em prática no mais curto período de tempo possível, porque significará um acesso bastante masi fácil e célere a medicamentos que são quotidianamente utilizados por muitos milhares.
Quanto à data indicada para a realização do referendo, num contexto em que seremos chamados às urnas pela 2ª vez no mesmo ano, é no mínimo louvável procurar minorar esta "carga eleitoral", que, inevitavelmente, tornaria esta consulta popular num recordista de abstenção...
Uma outra novidade foi o regresso das secretarias de Estado à capital já que, sendo um dos grandes desígnios deste Governo reduzir ao máximo as despesas, nada melhor do que dar o exemplo de fora para dentro.
Louvável é também o esforço de manter a sobriedade e evitar possiveis contradições, adiando a divulgação de novos pontos do programa de Governo para o período posterior à discussão deste, demonstrando também o respeito devido pela Assembleia da República.Nada melhor do que aprender com os erros dos outros...
Em suma, bons indícios de que as coisas podem mudar para melhor...pior seria difícil!

segunda-feira, março 14, 2005

quem corre por gosto não cansa


Depois da biografia de Cunhal, Pacheco Pereira lança-se nos "Estudos sobre o Comunismo". De génio e de louco todos temos um pouco. Considerando algumas parecenças físicas com o génio abaixo lembrado, resta-lhe a loucura de viver com um pé à direita, a alma à esquerda, e as toneladas de livros e documentos que pacientemente vai coleccionando.

126 anos



«Quando não tenho nenhum problema em particular para ocupar a minha mente, adoro repetir demonstrações que comprovem teorias físicas e matemáticas que há muito conheço. Nisto não existe qualquer objectivo, trata-se meramente da oportunidade de me satisfazer com a agradável ocupação de pensar.»

Albert Einstein

domingo, março 13, 2005

da criação


"Porque, quando é na esperança de uma preciosa descoberta que desejamos receber certas impressões de natureza ou de arte, temos algum escrúpulo em deixar que a nossa alma receba em seu lugar impressões menores que poderiam enganar-nos acerca do valor exacto do Belo."

Marcel Proust, Em Busca Do Tempo Perdido, À Sombra das Raparigas em Flor

sábado, março 12, 2005

Ana, a espumada, ataca de novo.

A debilidade intelectual de algumas figuras públicas não é, nem deve ser de estranhar. Revoltante é a atrofia mental de quem ocupa cargos de destaque na vida política ou administrativa. Como é que se chega a um estatuto médio/alto de poder público? No poder autárquico percebe-se ainda que a pessoalização dos eleitos e candidatos seja factor determinante na generalizada criação de popularuchas figuras, que mais tarde ou mais cedo serão alvos de auditorias comprometedoras. De Isaltinos a Campelos, passando em Fátimas brasileiras e Torres Tv-stars, o nosso rectângulo já viu de tudo um pouco. Aí nada de novo. Novo foi termos tido um primeiro-ministro cujo Q.I. competia com o de uma beterraba! Que ele tenha sido presidente de um clube onde 50% dos adeptos lêem o Record e a Caras ao mesmo tempo, nada de surpreendente… Como Presidente de Câmaras encaixa no referido estereótipo. Mas primeiro-ministro já será, convenhamos, um nadinha mais grave. Este é um exemplo clássico de como a mediocridade humana e a insuficiência de recursos mentais chegam e por vezes são armas mais eficazes para se atingir o topo. Chamemos-lhe o síndrome Santana. Um pouco diferente do síndrome Santana é o síndrome Gomes. Em comum têm o facto de quem deles padece não dever filiar-se em qualquer partido e, em alguns casos, não sair à rua. Mas o síndrome Gomes é bem mais engraçado e até já tem cura! Os pacientes estão bem identificados: socialistas, mais de 50 anos, tendência para estalarem e começarem a cuspir opiniões tresloucadas sobre temas actuais contra líderes do próprio partido. Este síndrome foi descoberto há uns anos num espécimen cujo nome não pronuncio por recear represálias, só posso dizer que foi destacado advogado e chamou coisas bem feias ao Paulo Portas. Mais recentemente, com a decisão do PR em dissolver o governo, o até então inominado síndrome reapareceu e aumentou de proporção. À porta do largo do rato uma despenteada senhora ex-diplomata (!!!!!) de lábio trémulo e olhar avermelhado tentava articular o melhor que podia um discurso digno de Óscar. Pensei nunca mais ver essa raiva na Anocas, mas esta semana fui agraciado com o seu discurso anti-socrático de defesa das mulheres no partido. Ao que se sabe, a senhora andava a ser acompanhada por um “segurança” particular contratado já na altura por Ferro, antes da sua demissão, que tinha instruções muito precisas. O dito “segurança” devia fazer os possíveis para evitar que a senhora se exaltasse. O remédio mais eficaz era uma injecção normalmente administrada a elefantes irados de 10 em 10 horas. A Ana apanhava uma de 5 em 5 horas. Dose menor é dada ao mencionado advogado, mas o bastante para que não ressurja a envergonhar as hostes nunca tão rosas. O que se passou, então, para que a ex de Jacarta conseguisse falar da forma que falou esta semana? Dizem as más línguas que o seu “segurança” foi chamado de urgência à sede, qualquer coisa relacionada com “um arraial de porrada nos betos que nos andam a mandar fotografias”. 5 horas e trinta minutos de ausência foram tempo suficiente para que a senhora, até então repousada a tomar um chá numa esplanada na Av. da Liberdade enquanto brincava com um catraio que por lá passava, regressasse a si, esbofeteando compulsivamente o choroso petiz e correndo a marcar uma conferência de imprensa.
Ana, a espumada, voltou à carga.

as ofendidas

Quem vai à guerra dá e leva. Ontem ao confrontarem Sócrates com o défice de mulheres no novo governo, as mulheres socialistas receberam como resposta a inexistência de mulheres dentro do PS, com suficiente protagonismo político e técnico. E por isso reagiram mal, considerando ofensivas e humilhantes as palavras de quem, no tempo da corrida à liderança do partido, prometia às mesmas prioridade no governo, em caso de vitória(s). Se é certo que Sócrates falha já a primeira promessa, é também certo que enquanto existirem grupos "anexos" aos partidos, como são as "jotas" e este Departamento Nacional das Mulheres Socialistas (DNMS), continuarão a existir os ofensores, as ofensas e os ofendidos. Seria muito mais útil se as ditas feministas (ou os ditos jovens) integrassem a dinâmica do partido em conjunto e não separadamente, em grupos de militância quase sindical onde se troca o mérito do trabalho e do reconhecimento pela competência, por género ou faixa etária. É óbvio que todos gostaríamos de ver governos paritários. O que assusta é a cegueira destas ferverosas feministas que nem sequer enchergam a humilhação que isso pode representar quando feito por favor, e da qual me leva a crer que sofram pelas reacções às palavras de Sócrates. A falta de maturidade política destes grupos serve para criar "espectros fantasma" que, no limite, terão a sua própria representação na assembleia. Aos partidos suicidas cabe manter a continuidade dos mesmos e, por consequência, da divisão interna e da instabilidade. Nas mulheres deposita-se a esperança de abandonarem o "departamento" onde praticam virilmente a sua feminilidade, e se tornarem íntegras e dignas no prestigiar das suas congéneres e do seu infinito valor como brilhantes seres humanos que são.

sexta-feira, março 11, 2005

11-M

"Ir até ao extremo é ficar sem lugar,
porque o extremo não é um lugar,
mais além não há espaço
e quem foi até ao extremo
já não pode retroceder.
Ir até ao extremo consiste precisamente
em achar a impossibilidade do regresso.
Ou talvez tão-só
a impossibilidade.
E o impossível não precisa de lugar"


Roberto Juarroz

Daniel Faria havia já escrito que há "homens como lugares mal situados". A estranheza que esses lugares provocam é absurda, nos homens-humanos não faz sentido, é o "impossível" que ganha lugar. O terrorismo não tem religião - não por caber em todas, mas por não caber em nenhuma. E se tem, porque se pode insistir que tenha, é a loucura no seu máximo expoente. É a construção mental de um deus de si, só de si, e para si. É a construção da "impossibilidade do regresso". À parte de culturas ou etnias. Porque a sua absurda intenção é tão entusiasticamente defendida e partilhada por um grupo claramente transnacional, transreligioso e transcultural, como são do mesmo intenso modo o repúdio, o desespero e o medo, por outro grupo transversal de quem humanamente chora a morte ou teme injustas represálias.
No silêncio das horas terríveis as palavras são pó. Deixo aqui uma poeira que aqueça no gelo que faz.

"UMA PEQUENINA LUZ

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a litle light
una piccola... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brillha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha."


Jorge de Sena

o génio entre nós


Centro Cultural de Belém - Pç. Império
Dia 22-10-2005 -> Sábado às 21h00
Brad Mehldau trio -> Larry Grenadier (contrabaixo), Jorge Rossy (percussão), Brad Mehldau (piano)

quinta-feira, março 10, 2005

Bálsamo para um acordar preguiçoso...


terça-feira, março 08, 2005

Para a Mulher a quem ainda não escrevi...

Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sitio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente a um espelho
que podia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças : "vem comigo!", e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro : a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de Verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais preciosas,
que são as nossas : o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.


"Carta (Esboço)" - Nuno Júdice

sábado, março 05, 2005

governo novo, vida nova

Assim se espera que seja depois do dia de ontem. As novas-velhas caras juntam-se a novas-desconhecidas caras num grupo que de guterrismo pouco ou nada tem. Transitam do antigamente: Mariano Gago, Augusto Santos Silva, António Costa, Alberto Costa e Correia de Campos, os poucos exemplos de sucesso do tempo de guterres. E ainda bem. Regozijo-me especialmente pelos dois primeiros, com pena que o segundo não tenha ficado na educação ou na cultura. Manterá concerteza o diálogo com a sua amiga Isabel Pires de Lima, que está na cultura e é do Porto (!) - teremos uma Casa da Música finalmente ao nível de um CCB? Curioso é também que a educação seja entrega ao braço direito de Mariano Gago, o que molda um governo de coesão e entendimento absolutamente fundamentais. Aplausos já ouvidos da Quercus à escolha de Francisco Nunes Correia para o ambiente, são também sinal de optimismo. Também os nomes de Luis Campos e Cunha e de Manuel Pinho (finanças e economia, respectivamente) já mereceram elogios pelo rigor e competência que demostram querer impor e praticar - ao contrário do que, em mais um exercício linguístico, Louçã apelida de "continuismo". A grande surpresa (ou não) é a de Freitas do Amaral. Não podia ser melhor a escolha para a pasta dos Negócios Estrangeiros a do homem que já presidiu à Assembleia das Nações Unidas e que é contra a guerra no Iraque. E cuja inteligência e sentido de estado ultrapassam o tacanhismo político que está a afundar a direita que ele não fundou nem sonhou.

sexta-feira, março 04, 2005

A concentração (ou melhor, a "re-concentração") dos media em Portugal

Problema fulcral na nossa sociedade actual, já deu muita dor de cabeça ao defunto Governo de Direita, com direito a indignações várias, audiências com o Presidente, manchetes chorudas e demais fait-divers já conhecidos e lembrados com saudade e um inevitável sorriso irónico...
Nos últimos dias, concluíu-se a venda da Lusomundo à Controlinveste, sociedade gerida por Joaquim Oliveira, que, com este negócio fica a deter controlo de importantes orgãos de comunicação como o JN, DN ou TSF.
A pergunta que se impõe é: qual é a diferença entre ser uma empresa de capitais particulares ou uma empresa com participação do Estado como era a PT, anterior propietária do referido grupo, a ter em carteira a Lusomundo? Não se mantém a concentração?
Fica a pergunta à espera da opinião do painel...

quinta-feira, março 03, 2005

curioso

Curioso o resultado actual de um inquérito lançado pelo Público sobre o dever de renúncia ou não do Papa. Ver aqui. Curiosa a divisão...