sábado, julho 30, 2005

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A relação que tenho com o café é de uma cumplicidade tal que chegamos mesmo a comunicar por telepatia, de tal modo que sinto efectivamente o efeito do mesmo antes de o tomar. Podem, portanto, perceber o quanto aumenta a minha tensão arterial não só quando o tomo, mas mesmo antes, só de nele pensar. A taquicardia é a nossa grande inimiga, e por sua causa mantemos há muito uma distância de precaução, saudosa é certo, mas que torna o café a minha arma secreta reservada para pujantes e urgentes desempenhos - no trabalho, entenda-se.
Pois que considero o café curto tão fraco como o cheio, não notando diferentes efeitos dos mesmos sobre mim. Porque simplesmente não os tomo. Agora, se quiserem discutir a diferença entre o carioca de limão do Majestic e o do Piolho, ou até que ponto o descafeinado tem menos cafeina que o carioca de café, meus amigos, temos pano para mangas e esta vida são dois dias, dois dos quais para descansar, por isso não contem comigo.

Reflexão do dia

Estudos há a constatar que hoje em dia as pessoas não reflectem. Tomam tudo como adquirido. Não vos sei dizer em que estudos li isto, nem se cheguei mesmo a lê-lo, mas que os há, há! É ver revistas masculinas ou femininas mensais, a Super-Interessante ou as Selecções do Reader’s Digest. De certeza que os encontrarão por lá. Preocupado com esta realidade infelizmente comprovada em estudos, resolvi encetar uma nova rubrica neste espaço de escrita – A REFLEXÃO DO DIA!!!

- Aqui há uns tempos, no café, ouvi alguém dizer: “Queria um cafezinho, mas cheio por favor, que eu hoje preciso de acordar!”. Ora, o meu pai sempre disse que o café cheio seria mais fraquito… O mais curto seria mais concentrado, logo mais actuante. Ainda de me lembro de lhe ter levado um café mais compridinho e de ele me ter dito, indignado, “Olha lá! Isto é café que se apresente a um home! Queres ver que para a tua mãe, que é gaja, tiraste um mais curto?”, continuando depois a escovar os longos cabelos loiros do meu irmão. Bom, mas isto tudo serviu de introdução à reflexão de hoje:

- Um café cheio:

1. Será mais forte, porque tem mais café do que um curto?
2. Será mais fraco, porque tem mais água do que um curto?

Um café curto:

1. Será mais forte, porque tem mais café concentrado numa pequena quantidade de água?
2. Será mais fraco, porque tem menos café do que um cheio?

Pensem nisto.

quinta-feira, julho 28, 2005

A arte paga o seu preço, o ser humano
não paga nenhum.
Vós sois pela liberdade da arte,
do ser humano
falais apenas sob
este
signo.
E afinal
existe em todos nós
o mesmo Deus, feio-
-belo,
e verdadeiro.

Paul Celan, in "A Morte é uma Flor"

sábado, julho 16, 2005

O George Costanza é a Maior Mentira da TV




Quem não conhece a série Seinfeld?
Esse grande mito da televisão portuguesa...

Neste momento, a SIC Comédia está a fazer concorrência aos Packs em DVD da série transmitindo diariamente um episódio. Quanto a este programa tenho apenas o seguinte comentário a tecer:

O George Costanza em lado nenhum comeria gajas!!! Como é possível um tipo como ele ter "senhoras" para sair na modalidade "date"? Senão vejamos:


1. Ele é feio;
2. É gordo;
3. Baixinho;
4. Veste-se mal.

Não obstante, ainda preenche os seguintes requisitos:

1. Tem uma voz irritante;
2. É um típico chato como o caraças;
3. Não quer fazer nenhum;
4. Não é boa pessoa.

Posto isto, cumpre-me apresentar a seguinte questão: O que é "elas" viram nele?
NADA!
- respondo eu. Ele só come gajas porque é uma série de televisão. Acreditem em mim porque é verdade.

E quanto à vida real deste pequeno petiz? Terá ele sucesso na sua vida amorosa? Enfim... Acredito que sim. Porquê? Porque é o actor da série Seinfeld. Logo, a TODA a vida amorosa do "George Constanza" gira em torno da mítica comédia norte-americana. A táctica de engate dele deve ser a seguinte: "Então, nunca te vi por aqui... Não me estás a reconhecer? Eu entrava no Seinfeld. Era o gordo, baixinho e irritante".

E foi assim, este pequeno desabafo...

P.S. - Qualquer reclamação de fans do George Constanza podem ser enviadas para o Provedor do Blog.

quinta-feira, julho 14, 2005

Há coisas intrigantes

Os senhores de sandálias e meias são intrigantes.
As senhoras que falam connosco no autocarro sem razão aparente são intrigantes.
Os senhores que passeiam com um auricular na rua a falar são intrigantes.
Os senhores que passeiam com um auricular na rua a falar e fazem gestos explicativos são ainda mais intrigantes.
As pessoas que ainda gostam de fogo de artifício como “uma macumba qualquer” são intrigantes.
O MacDonalds ter uma menina a perguntar se “não quer provar a nossa nova Macpita?” é fantástico!
Aquele senhor preto (Daniel qualquer coisa) que faz reportagens para os programas cor-de-rosa da Sic é deveras intrigante.
As prateleiras de saída dos supermercados terem sempre produtos sazonais é intrigante.
As prateleiras de saída dos supermercados terem agora geladeiras, como se alguém com um carrinho cheio se fosse lembrar “e se eu abdicasse de metade do carrinho por aquela geladeira que oferece um protector solar e uma ventoinha”, são intrigantes.
Um filho de indiano com chinesa nascido na Madeira é confuso.
Mas há um fenómeno que ultrapassa a esfera do intrigante. Um fenómeno que começou por ser engraçado, depois irritante, depois intrigante, depois case-study e agora se mostra assustador. E esse fenómeno é a utilização casual de frases publicitárias como elemento humorístico / desinibidor social. Aqui há uns anos, naquele tempo em que tudo o que os nossos pais fazem nos parece brilhante, ouvir frases como “é aquela máquinaaaaa” ou “frio, eu não tenho frio, uso bla bla bla” ou ainda “las chicas mas calientes de la tele” (crise de meia idade), era motivo de galhofa durante uns bons minutos. Tentávamos repeti-las e pensar em bons momentos para as introduzir nas conversas. Com o passar do tempo fomo-nos apercebendo que não era assim tão giro meter um “branco mais branco não há” em tudo o que é conversa. Principalmente em escolas dos subúrbios. O grande problema é que agora, na casa dos vinte, o pessoal regressou aos desinibidores publicitários. Havia coisa mais cretina, aqui há uns tempos, do que sempre que dizíamos “ah” alguém respondia “onde é que está o pão”? Havia. O sujeito ao lado que dizia “o leite, o leite”. Agora a frase da moda é outra. E talvez seja a mais irritante delas todas! É a já mítica “é já a seguir! É que é já a seguir!”.
Nunca vos aconteceu estarem com alguém que repete esta frase até à exaustão? Do estilo “Olha o Borges! Então meu! Tás porreiro?” “Sim, e tu?” “Sim vou trabalhar. Tu não vais?” “Sim! É já a seguir!”. Desesperante não é? E depois nós forçamos o sorriso e vamos a dizer um “sab…” e o Borges “É que é já….” E aqui nós ficamos a olhar para a boca do Borges à espera da conclusão e a pensar “se tivesse aqui uma almofada livrava-te do sofrimento” quando o Borges termina “a seguir”. Desesperante! Depois tentamos manter o sorriso e o tipo dá-nos uma cotovelada, abana a cabeça com um sorriso de orelha a orelha e suspira “Ahhhh, este anúncio é demais. Não conheces?” Nós bem tentamos dizer que sim e que, realmente, é qualquer coisa de excepcional. Mas o Borges não perdoa e repete a frase, desta vez com o movimento de braços e pescoço do senhor do anúncio, aquele movimento que faz lembrar alguém a apanhar uma descarga eléctrica no coxis. O que fazer aqui meus amigos? O melhor nestes momentos é perguntar “Mas olha lá, que produto é que é publicitado aí?” Foi o que fiz e resultou. O Borges ficou a pensar para si enquanto repetia com mímica labial o anúncio. Eu retirei-me e fui para casa a pensar como se pode ser tão ridículo, enquanto assobiava o Stucomat é uma grande tinta, Stucomat é da Robialac.

sábado, julho 09, 2005

efeitos colaterais

Pobreza franciscana (ou não, ou não) a que assola os telejornais por estes dias terríveis. Para salvação da letargia na produção informativa, chegaram os incêndios. E um Live AID pelo meio. Vivam as desgraças! Agora a chatice de Londres e a inoperância é quase total. Salvo algum trabalho de enviados especiais. Ainda assim, o que fazer, a quem ouvir, o que mostrar? Os portugueses que andavam por lá. As narrativas com luso-pseudo-heróis proliferam. Porque o debate e a informação séria dá trabalho. Onde os especialistas do terrorismo, do islão, do fundamentalismo, onde os líderes religiosos, onde a reflexão, onde a cultura, onde o combate ao ódio cego, ao preconceito, entre as religiões? Requer meios, é certo, mas vontade, acima de tudo. E continua o país inteiro durante mais de 1 hora (!) estupidamente sentado, à mesa, no sofá, a praticar as sensações e as emoções, comovido e revoltado. E mais nada.

quinta-feira, julho 07, 2005

o insuportável alerta




skynews.com

quarta-feira, julho 06, 2005

as horas

No zénite da produção diária, o operário descobre coisas fascinantes. Existe todo um submundo para além do possível e imaginável. E o operário rejubila com tamanhas descobertas. Última incursão fantástica: google earth, ou o mundo à distância de um clique. Apesar de beta, a versão é já muito boa. O melhor é mesmo experimentar. 3ª dimensão incluída. Bónus: a mulher que caiu do céu. Interactiva. Outra simples/grande proeza informática.

sábado, julho 02, 2005

um continente com gente dentro


Malangatana

A propósito do Live Aid, deixo aqui vários links, com destaque para o do texto de Mia Couto escrito nos 30 anos da independência de Moçambique, em Junho passado. Não realço nenhum parágrafo ou frase do texto porque todo ele é de obrigatória leitura para se perceber o drama de África pelos olhos de um africano. Com as outras ligações pretendo mostrar que para aquelas bandas existe internet e gente culta e inteligente - ainda que de forma ingénua, para desmistificar a ideia racista e estúpida de que "são pobres porque querem, porque não sabem gerir o dinheiro nem têm capacidade para o fazer". Também porque participar de África, do seu dia a dia, das suas notícias e das duas ideias, é já uma forma de ajuda, no sentido de se tratar porventura do passo que falta dar - e que é o inicial - para acabar com os milhares de silenciosas e diárias mortes.