sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Vampire Weekend


E ao 2º mês do ano da graça de 2008, eis que surge finalmente um álbum que, com certeza, constará de qualquer top que se preze no final do ano.
É indie com tudo o que este género tem de melhor. Pop solarengo e festivo, com influências tão díspares como o afro ou o rock, destaca-se pelo constante despretensiosismo que espelha em cada composição e pela qualidade melódica com que nos presenteia, usando os mais diversos artifícios para tornar a nossa viagem ainda mais leve e despreocupada.
Ouvindo as faixas que o compõem, relembramos a ironia do "vampire" que denomina tanto a banda como o álbum, quando nos soam vagamente familiares alguns arranjos com ecos de Strokes, de Arcade Fire ou até de Belle and Sebastian, em tudo o que estas bandas trouxeram de melhor ao panorama musical mundial.
É verdade que são vampiros...mas vampiros selectivos.
Um álbum que ainda vai dar muito que falar. E é apenas a estreia!
A ouvir, repetidamente...
Esperemos que as promotoras andem atentas e apostem em sangue novo. Já chegava de Alejandro Sanz e Ivetes Sangalos...


P.S.: Aqui vai um "cheirinho" do que estes rapazes andam a fazer...

terça-feira, fevereiro 19, 2008

HENDRIX...pq sim!


Há quem lhe chame Deus...
Com uma guitarra na mão tornava-se veículo de algo maior. Superava o espaço e o tempo onde acidentalmente se encontrava e a viagem era inevitavel, indescritivel.
Autodidacta, começou a tocar muito novo, quando por volta dos 10 anos lhe foi presenteada uma guitarra, com que tentava reproduzir os ruídos e melodias que ouvia nos cartoons.
Cresceu numa família disfuncional e cedo o desejo de fazer da música a sua vida o tomou de assalto. Passou por duras peripécias antes de atingir o esterlato e apenas a travessia do Atlântico da longínqua Seattle para Londres lhe permitiu chegar aos ouvidos de toda uma geração sedenta de mudança.
A Londres dos anos 60 era "the place to be" para quem queria ouvir e fazer boa música. O rock era reinventado quase diariamente e os velhos gigantes dos blues como Muddy Waters ou B. B. King voltavam à ribalta pela mão dos seus maiores cultores ( gente como John Mayal, Clapton, Paige ou Townshend...), que os referiam constantemente como fontes de inspiração. A música ganhava asas, pairava ao sabor da inspiração...ou da tripe mais psicadélica.
O guitarrista ganha o protagonismo que até aí se havia dissolvido no seio das bandas formatadas simplesmente para produzir hits comerciais. Os solos monumentais de guitarra e de bateria tornam-se habituais e incontornáveis, principalmente depois da marca deixada por uns Cream e eternizada por uns Zeppelin. O rock democratiza-se, desmistifica-se mas, no sentido inverso, cristiliza-se a imagem do "guitar hero".
Hendrix surge neste turbilhão criativo como uma verdadeira revolução sónica, deixando boquiaberta uma cena cultural que julgava já ter visto tudo. "Are You Experienced", com o fabuloso Mitch Mitchell e Noel Redding, foi a pedrada no charco, com o explosivo "Fire" a ser catapultado surpreendentemente para o nº1 dos tops, precipitando a ascensão meteórica de Jimi ao panteão dos imortais.
Ingénuo (chegou a ser enganado pelo seu agente...), simples, apaixonado pala música e pela vida, sugou até ao tutano tudo o que esta lhe ofereceu, legando às gerações futuras a sua visão optimista, jovial, urgente, a espaços intimista mas sempre intensa e inventiva do Mundo em convulsão que o rodeava e do seu agitado universo interior.
Deixou por realizar aquele que provavelmente seria hoje unanimemente apontado como um dos melhores álbuns de sempre: uma colaboração com Miles Davis, apalavrada pouco tempo antes da sua prematura morte, numa altura em que ambos estavam no topo da sua criatividade e comungavam uma visão similarmente progressista e iconoclasta da Música.
Em 1970, na idade já maldita dos 27 anos, deixou-nos. Na sua terra natal a triste homenagem ainda hoje visivel é uma inscrição insípida num pedregulho na entrada do zoo da cidade.
A família, que em vida o ignorou, continua a facturar com um património incalculável em masters, gravações caseiras e bootlegs.
Os seus verdadeiros herdeiros, esses, são quem contacta com a intensidade da sua música ou simplesmente agarra numa guitarra e sonha deixar a sua marca. Slash, num texto que escreveu recentemente, dizia que há um pouco de Hendrix em todos os guitarristas...Talvez. Mas o seu legado está em cada acorde capaz de resgatar a sua memória da treva do tempo.
Tocar o céu é impossível…mas tentar está ao alcance de quem o queira.

Haja guitarras…e inspiração!