segunda-feira, junho 26, 2006

s. joão


não aqui, ribeira, mas em miragaia (em estreia - que vergonha, 25 anos sem ter posto lá os pés), o aperto era muito, como na foto: o bailarico invadia a noite. o ano reservou os encontros para a mesma noite, o mesmo local, as amizades regressavam em avalanche. e pouco álcool foi preciso para no fim se cantar If you were in these arms tonight - indescritível. depois: o cansaço amplia a memória. o sono tem o riso das crianças.

terça-feira, junho 20, 2006

djéze


em agosto, na gulbenkian, sob o signo de coltrane.

quarta-feira, junho 14, 2006

poema

Eu sou um verso incompl

é mais incompleto do que a palavra incompleto possa sugerir.

as palavras perderam validade. gastámos os seus sentidos.

faca já não assusta tanto.
amanhã o mundo vai arder
criança por criança
amante por amante
assusta muito mais.

poemas sem palavras. não-poemas. a dita
sur|presa|
sem ser a surpresinha costumeira - ui!

nós somos o atrito no sentido das palavras.
lisos e aderentes. alcatrão. gastamos e gastamos.
palav

PUTA!

que doem nos ouvidos.

domingo, junho 11, 2006

coisas de amanhã



60.
Outros poetas e outras FILOSOFIAS?
O Percalço na tese.
A prova que a tese existe é o Percalço e é o Percalço que torna inexis-
tente a TESE.
A existência inexistente não existe.
A inexistência existente existe.
Gosta mais dos pés ou das mãos?
Depende. O Coração é VARIÁVEL.
Depois da Morte, sim, os GRÁFICOS FICAM inválidos. Não há
VARIAÇÃO.
Ainda mais? SIM.
Jogar às cartas com o corpo e fazer do corpo o Acaso que surpreende
os BATOTEIROS.
Quem engana quem?
Os olhos dos outros escravizam a poética do Músculo.
Quando começa a poética?
a poética começa quando imaginamos que os outros são cegos.
A exibição?
A melhor exibição é perante os cegos, o corpo vem lá de dentro cá
para fora, e traz a NOVIDADE.
O FIM?
Quando disseram que a Alquimia era uma FARSA e esqueceram que
tudo o que não é Alquimia também é uma FARSA.
O que é que não é FARSA?
O que impede a MORTE.
O corpo que dança pode impedir a morte?
Não. Tudo é FARSA. Mas o corpo que dança pode obrigar os OUTROS
ao desejo de impedir a Morte.
Uma explicação?
O Prazer é muito mais baixo que o Desejo.
O Desejo é alto, é o que não se toca, queremos TOCAR.
O Prazer é baixo, é o que se TOCA
Uma definição rápida?
O Desejo é uma Prateleira do Céu.
Outra definição?
O Céu é uma prateleira de deus.
Outra ainda?
deus é uma prateleira do homem.
Uma correcção?
deus pode ser uma prateleira do homem.
uma indicação final?
O início.
a alma?
a indicação final.
Coreografias?
ocupar espaço antes dele nos ocupar.
O amor?
não respondo à Ciência, não sou capaz.
O amor?
a ciência a grande Ciência.

Gonçalo M. Tavares
"LIVRO DA DANÇA"
Assírio & Alvim

[respeitei as quebras de linha, talvez de uma forma um pouco ingénua, mas com o intuito de transcrever fielmente o poema de acordo com a edição referida]

sábado, junho 10, 2006

djéze

num intervalo da euforia, ora induzida pela parada militar na foz (?) ora pelos frenéticos segundos que se sucedem antes da selecção levar uma abada de angola e o país se suicidar, lembro que este senhor vem mesmo cá, ao porto também, e que devem estar atentos, porque os bilhetes costumam esgotar rapidamente.

2006-09-22, Chick Corea, Coliseu dos Recreios, 21h00
2006-09-23, Chick Corea, Coliseu Porto, 21h00

já agora, aos apreciadores do jazz (que é uma expressão que não existe - quem gosta de jazz normalmente é fanático - é portanto de certo modo absurdo inútil o que escrevo a seguir) existe o interessantíssimo projecto online jazzportugal dinamizado pelo incansável josé duarte. visitem o site, assinem a newsletter, vão ver que não minto.

quinta-feira, junho 08, 2006

ao nosso (quase) único leitor

Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símblo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais -
lá vai o poeta em direccção aos seus
sinais. Dá a pata
como os outros animais.

O sol é branco, as flores legítimas, o amor
confuso. A vida é para sempre tenebrosa.
Entre as rimas e o suor aparece e des
aparece uma rosa. No dia de verão,
violenta, a fantasia esquece. Entre
o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce
sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa no instante da graça.

De pulmões às costas, a vida é para sempre
tenebrosa. A pata do poeta
mal ousa agora pedalar. No meio do ar
distrai-se a flor perdida. A vida é curta.
Puta de vida subdesenvolvida.
O poeta corre os pontos cardeais.
O sol é branco, o campo plano, a morte
certa. Não há sombras de sinais.
E o poeta dá à pata como os outros animais.

Se a noite cai agora sobre a rosa passada,
e o dia de verão se recolhe
ao seu nada, e a única direccção é a própria noite
achada? De pulmões às costas, a vida
é tenebrosa. Morte é transfiguração,
pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta
de rosa interior à pata nos pedais
de confusão do amor.
Pela noite secreta dos caminhos iguais,
o poeta dá à pata como outros animais.

Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais,
dá a pata nos pedais para um verão interior.

Herberto Hélder

quinta-feira, junho 01, 2006

é só levantar o cú do sofá!


porque tudo isto é de borla!

reflexão genial sobre o cinema e as pessoas

do que as pessoas precisam é de cinema pessimista, filmes com início, meio e fim sem côr, nem vida nem esperança, personagens horrendas e personagens horrendas, sem o típico final feliz. porque o que deprime as pessoas é precisamente o contraste entre esses finais felizes e as suas vidas, mal passam a porta de saída do cinema. dêem-lhes filmes negros, repletos de injustiça, sem luz nem esperança, vão ver como a vida se lhes torna tão mais alegre.