sábado, março 28, 2009

Ignorância, Ambição...ou o (ainda) longo braço de Mao



Após ter reunido com Gordon Brown, num assomo de verdadeira inspiração, Lula da Silva declarou que a crise mundial foi "fomentada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis, que antes da crise pareciam que sabiam tudo, e que agora demonstram não saber nada".
Das duas uma: ou pensava estar "off the record" (altamente improvável, visto que se tratava de uma conferência de imprensa...) ou foram declarações perfeitamente ignorantes e racistas, o que para um chefe de Estado de uma das recentemente denominadas "potências emergentes" (embora num nível bem diferente da Índia ou da China) não deixa de ser irónico e ridículo, já que nitidamente "morde a mão que lhe dá de comer".


E por falar em ignorância e China, assuntos praticamente indissociaveis, ventos agrestes sopram da terra natal de Mandela...
Numa altura em que se recordam 50 anos de repressão e verdadeiro genocídio do povo tibetano pela China, o porta-voz do governo sul-africano afirmou publicamente ter sido recusado o visto ao Dalai Lama, convidado a intervir numa conferência sobre o papel do futebol na luta contra o racismo e a xenofobia (juntamente com Frederik de Klerk e o arcebispo Desmond Tutu), para evitar pôr em risco as relações bilaterais com Pequim (um dos seus maiores parceiros comerciais), após inicialmente o argumento ser apenas de que a visita "não era do interesse do País", já que não tinha sido o Estado sul-africano a convidá-lo.
Em tempos de crise, enterram-se as memórias da luta de um povo (ou melhor de dois povos...) pelos mais básicos direitos do ser humano no tilintar de mais uns trocos nos cofres estaduais.
Mudam-se os tempos...

sexta-feira, março 27, 2009

The sound of drums...

1956.
Jazz dos States no seu auge.
Miles, Coltrane ou Mingus com álbuns seminais a darem as coordenadas que até hoje servem de referência para o Jazz como Arte.
Trio do recentemente falecido Oscar Peterson no programa de Nat King Cole, inesquecível crooner e, poucos saberão, excelente pianista.
Philly Joe Jones, um dos mais virtuosos bateristas de sempre, a puxar dos galões e a mostrar como o impossível pode parecer tão fácil como sorrir.

quarta-feira, março 18, 2009

TARANTINO

Finalmente notícias fresquinhas deste Sr.
O filme chama-se "Inglorious Basterds" e o trailer fala por si.
Espera-se um regresso em grande, infelizmente adiado até Agosto.
Fica um cheirinho do que aí vem.
(Experimentem com HD.)

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segunda-feira, março 16, 2009

Dark Was the Night - The National

quarta-feira, março 11, 2009

FEELIN´ GOOD!


Há dias que são novos começos...
A Nina bem que me avisou :)


Tá-se bem na Roménia...

Não convém é ir de carro...
O problema de tudo isto: o irmão deste artista mandou o seu video para a tv, onde foi um grande sucesso, tão grande que a polícia já o procura, provavelmente para um autógrafo...no cadastro.
Temos palhaço...

terça-feira, março 10, 2009

Antigamente...

...bastava ouvir algumas notas destas músicas para identificar o filme de que eram banda sonora, mesmo que nunca o tivéssemos visto.
Duplas como Spielberg/John Williams, Hitchcock/Bernard Herrman, Burton/Elfman, Sergio Leone/Ennio Morricone fizeram e ainda fazem as nossas delícias e eternizaram na nossa memória colectiva filmes como Star Wars, E.T., Psycho, Eduardo Mãos de Tesoura ou "O Bom, o Mau e o Vilão".
Actualmente são raros os realizadores que se preocupam com esses detalhes. Ou então talvez já não se componha como nesses tempos, captando o espírito de cada frame e encaixando a música por forma a construir um todo vivo, quase orgânico.
Mas que faz falta, isso não há dúvida...















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terça-feira, março 03, 2009

Só neste triste país...




...é que gente como Vicente Moura é sucessiva e tranquilamente reconduzida nos seus cargos.
Depois de uma gestão desastrosa da comitiva portuguesa nos últimos Jogos Olímpicos de Pequim, agravando uma crise de resultados com uma crise de bastidores, com conflitos constantes e os atletas totalmente expostos à confusão, numa altura em que a concentração devia ser absoluta, Vicente Moura foi candidato único ao cargo de Presidente do Comité Olímpico Português, contando no entanto com ausências de peso, como a da Federação Portuguesa de Atletismo e de Futebol.
É por estas e por outras que nunca atingiremos a excelência necessária para triunfar.

Ben Stiller disfarçado de Joaquin Phoenix

O melhor momento dos Oscars.

Late Show com Joaquin Phoenix

Será que ele estava drogado, enlouqueceu ou simplesmente foi obrigado a aparecer no Letterman?
Qualquer que seja a explicação, é uma entrevistas mais surreais que já vi...


segunda-feira, março 02, 2009

2 MANY DJS - Introversy


O novo desafio a que se propuseram foi um set de 60 minutos na BBC1, em que juntam nada mais nada menos do que 420 intros de músicas!!!
A lista de intros é interminável.
O resultado foi este...

Leituras...



Éramos peixes, percebe, peixes mudos em aquários de pano e de metal, simultaneamente ferozes e mansos, treinados para morrer sem protestos para nos estendermos sem protestos nos caixões da tropa, nos fecharem a maçarico lá dentro, nos cobrirem com a bandeira nacional e nos reenviarem para a Europa no porão dos navios, de medalha de identificação na boca no intuito de nos impedir a veleidade de um berro de revolta. (...)
Éramos peixes, somos peixes, fomos sempre peixes, equilibrados entre duas águas na busca de um compromisso impossivel entre a conformidade e a resignação, nascidos sob o signo da Mocidade Poruguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, alimentados culturalmente pelo ramal da Beira Baixa, os rios de Moçambique e as serras do sistema Galaico-Duriense, espiados pelos mil olhos ferozes da Pide, condenados ao consumo de jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo, e jogados por fim na violência paranóica da guerra, ao som das marchas guerreiras e dos discursos heróicos dos que ficavam em Lisboa, combatendo, combatendo corajosamente o comunismo nos grupos de casais do prior, enquanto nós, os peixes, morríamos nos cús de judas uns após os outros...

António Lobo Antunes "Os Cús de Judas"

MILK


I´m Harvey Milk and i am here to recrut you!(...)
All men are created equal.
No matter how hard you try you can never erase these words.
That´s what America is.


The Wrestler


Realizado por Darren Aronofsky
Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood

Randy "The Ram" é um lutador de wrestling outrora nos píncaros da fama e da glória, algo que Aronofsky faz questão de nos mostrar com algum detalhe logo no genérico inicial.
Encontramo-lo velho, falido e só mas, sacrificando a sua já débil saúde, teimosamente ligado e dependente do que sente ainda dar sentido aos seus dias: lutar, fazer no ringue o que há muito já desistiu de tentar na vida.
O cenário é a América dos subúrbios (neste caso New Jersey), escondida de qualquer cartão de visita da tão propalada "terra das oportunidades", onde participa em combates realizados em salas pequenas, apenas para sentir o apoio dos poucos que ainda o lembram e conseguir uns míseros trocos que mal chegam para a renda e os medicamentos.
Com uma reedição do combate que 20 anos antes o tornara famoso, sente uma nova oportunidade de voltar ao esterlato, mesmo que apenas por uma noite, intensificando ainda mais a sua rotina de treino e dedicação à única companhia a que se manteve fiel em toda a sua vida.
Mas um precalço leva-o a questionar o seu percurso, conduzindo-o a um regresso a feridas que deixou abertas no passado e que urge tentar sarar, antes que o tempo o derrote no combate para manter a vida.


"I´m an old broken down piece of meat. And i´m alone. And i deserve to be all alone.I just don´t don´t want you to hate me"


Mickey Rourke regressa aos grandes palcos e Aronofsky proporciona-lhe o papel de uma vida. É um daqueles casos em que temos a sensação que realizador e actor principal estavam destinados a encontrar-se e que Rourke foi sem dúvida a 1ª escolha.
Mas na realidade não foi isso que sucedeu.
Como Rourke revelou em diversas ocasiões, Aronofsky contactou-o mas, consciente da sua fama de "bad boy" destrutivo e intratável, aceitou trabalhar com ele com a condição de que não lhe poderia pagar e de que nunca aceitaria que ele o desrespeitasse em frente à equipa, isto caso conseguisse angariar o dinheiro necessário para concretizar o filme, tarefa dificultada a partir do momento em que Rourke fosse parte do elenco.
A dupla resultou na perfeição, com Aronofsky a defendê-lo contra tudo e todos e Rourke a ter inclusivé liberdade para fazer adaptações no guião.
Os resultados não tardaram. O triunfo auspicioso do Leão de Ouro em Veneza foi o início de um percurso memorável no último ano, com a aclamação unânime da actuação de Rourke e de um filme singular, pela sua frontalidade e honestidade.
É um caso típico do que os anglo-saxónicos apelidam de "art imitating life", já que é demasiado óbvio o paralelo entre o protagonista e homem por detrás dele. Ambos trilham o mesmo caminho de procura do tempo perdido e do potencial dos tempos em que estavam no topo, mantendo a perserverança e, a cada passo novo, recuperando a auto-confiança.
O filme transcende a realidade dos bastidores do wrestling e foca-se antes na natureza humana, no imenso manancial de tenacidade que cada um de nós, mais sonhadores e solitários como "The Ram" ou mais realistas, temos perante uma oportunidade da fazer a vida valer a pena.
Aqui fala-se de um dos sentimentos mais transversais e inevitáveis no Homem, qualquer que seja o seu estado de alma ou a sua profissão: a esperança de dias melhores. E até onde somos capazes de chegar em busca da felicidade, mesmo que esse caminho traga consigo a solidão.

Faltou o Oscar a Rourke. Sobra-lhe talento para muitas nomeações e consagrações futuras.
Mas o regresso triunfal a que todos assistimos, esse ninguém lho tira.

HUNGER



Vi Hunger há umas horas e ainda não me saíu da mente.
Não consegui digerir tudo o que passou pelo ecrã...
É um dos melhores filmes que vi até hoje. Isso sei. E pensar que foi uma estreia na realização de Steve McQueen (artista plástico, também co-argumentista juntamente com Enda Walsh) torna tudo ainda mais surpreendente.
Inúmeras peculiaridades tornam-no singular.
A quase ausência de falas foca-nos no sub-texto e começa por captar a nossa atenção, lentamente, no essencial, algo cada vez mais raro numa área onde o lema "less is more" deixou há muito de ser uma referência.
A violência física e visual, por vezes extrema mas nunca gratuita, repelem o nosso olhar e chocam pelo realismo, pela ideia de que tamanha barbárie realmente aconteceu numa das democracias de referência da Europa e do Mundo.
A completa despreocupação em tomar partido, contextualizar exaustivamente ou fazer qualquer tipo de statement político ou ideológico, tratando o espectador como ser pensante e minimamente inteligente, tornando-o parte e testemunha e julgando por si, é talvez o maior atractivo deste filme. Aqui Bobby Sands (deputado do Sinn Fein preso por posse de armas e condenado a 12 anos de prisão), encarnado por um impressionante Michael Fassbender, é apenas mais um, que tem consigo uma fé inabalável nas suas convivções e a força física e de espírito para lutar até ao limite por tudo o que elas representam.
É um filme com diversas fases, extremamente sensorial, directo, frontal, sem qualquer tipo de compromissos e concessões ao politicamente correcto, ao asséptico que caracteriza o mainstream e muito do cinema dito independente que prolifera por essas salas.
Poético na sua imagética, é impossivel gerar indiferença.
Os planos, a excelente sonoplastia, a fotografia, o argumento...o todo conjuga-se no objectivo reduzir à essência tudo o que nos chega, criando um equilíbrio entre a contemplação e a acção, o Ser e o Fazer, a alma e o corpo.
O resultado é poderoso, sublime, inesquecível.
Um murro na mesa.
Um murro no estômago.
Uma obra-prima que nos relembra porque gostamos tanto de Cinema e lhe chamamos ainda Arte.


O trailer



O realizador