sábado, janeiro 28, 2006

O Super-Poeta

Olá. Eu sou o Tiago e é a primeira vez que participo neste blog. Gostava de um dia vos vir a conhecer a todos. E quem sabe vir a amar-vos muito. Ou mesmo fazer amor com alguns.
O amor é de facto algo bonito, mas o tema que me tráz aqui hoje é feio. A vitória do Cavaco.

Não percebo nada de política. E acho estranho alguém perceber. Para mim a política é como a família de uns vizinhos quaisquer, a umas casas de distância da nossa, e da qual só vamos sabendo aquilo que é realmente manifesto: o marido que é posto fora da porta, a filha que chega a casa grávida, o filho que anda na droga e já vendeu as pratas da mãe. No entanto, não sabemos os meandros, as conversas à mesa, aquilo que realmente cada um desses elementos faz ou tenciona fazer da e na vida. Mas seria isso justamente que nos faria perceber e opinar com alguma propriedade acerca da integridade das suas acções, do estofo e do carácter de cada um deles, dos downloads que fazem às escondidas.

Bem, vem esta introdução a propósito de algo que, não obstante a minha politóloga ignorância, esbarra contra os princípos lógicos mais elementares que resolvi acolher na minha vida prática. Como por exemplo saber que uma coisa não pode ser redonda e quadrada ao mesmo tempo. Ou que se quero ir em frente, não vou para trás. Ou mesmo a impossibilidade de uma pessoa, no mesmo instante, ser a Margarida Rebelo Pinto e uma boa escritora.

É o seguinte, portanto. Há quem diga que a esquerda fez mal em dividir-se. Quer dizer que a alternativa seria o PS encontrar um deputado que catalizasse convergências no eleitorado e que baixasse o nível de abstenção. Ora bem, as pessoas que o defendem decerto que propõe o deputado Manuel Alegre, que seria no panorama a única hipótese. Nenhum outro dos possíveis aceitou e não houve em mais lugar algum indícios de motivação. Então quer dizer que, segundo esses críticos, se Alegre fosse sozinho às eleições conseguiria não só que todos os que votaram Soares, Jerónimo, Louça e Garcia votassem nele, como fazer com que algum eleitorado que se absteve levantasse o pacote para ir votar no Super-Poeta?


Se assim é, então também a Margarida Rebelo Pinto poderá vir a escrever um dia uma ideia original, uma metáfora sugestiva, uma página sem erros.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

quem não for é um ovo podre.


brad mehldau trio, 10fev ccb, 11fev casa da música.

terça-feira, janeiro 24, 2006

O fim de um ciclo

Queira-se ou não, o resultado destas eleições anuncia o inevitável fim de um ciclo político e ideológico no panorama social português.
O chamado "soarismo" teve a sua mais pesada derrota de sempre, graças à divisão, inicialmente latente e mais tarde aberta, nas hostes do partido onde nasceu e uma campanha eleitoral mal gerida e, a espaços, bastante agressiva e precipitada.
A Esquerda portuguesa, preocupada em dividir para reinar, com cada um dos seus partidos a querer demarcar o seu território próprio ao invés de procurarem consensos e candidaturas conjuntas com apoios amplos, viu a sua estratégia (ou melhor, a falta dela...) ser punida por um eleitorado atento e cada mais maduro, à imagem da já "trintona" democracia de que são elemento essencial, como ficou mais uma vez demonstrado.
Pela primeira vez desde o fim da ditadura de Salazar foi eleito um Presidente da República de centro-direita (mais centro que direita...), resultado de uma campanha meticulosamente preparada, na qual surgiu, indubitavelmente, como a alternativa mais segura a uma esquerda desorientada e fracturada. Restableceu-se um equilíbrio de forças entre A.R. e P.R. e embora com algumas dúvidas, espera-se que o convívio com a maioria parlamentar venha a ser pacífico, embora participativo...Veremos...
Quanto à campanha em si, foi um pouco caricata, culpa principalmente dos media e afins...
Antes de tudo, um dos candidatos, numa primeira fase (que seria teoricamente de pré-campanha mas, na prática, era já de campanha efectiva) foi posto de parte, quer nos debates televisivos quer nos restantes media, o que revela uma falha bastante grave e algum laxismo por parte de quem tem obrigação de informar devidamente os cidadãos.
Por outro lado, todos os debates televisivos (demasiados, chatos, repetitivos...) se realizaram em período supostamente pré-eleitoral. Compreende-se que estas eleições tenham sido um pouco atípicas, na medida em que completam um ciclo de três actos eleitorais consecutivos bastante próximos, mas tal não justifica estes factos. Esbateram-se as diferenças práticas entre pré-campanha e campanha efectiva e levantaram novos precedentes que, com certeza, servirão de modelo para o futuro.
Quanto ao "choque de titãs" no seio do P.S., o Primeiro-Ministro optou, sabiamente, por separar as águas...O tempo dirá se será essa a vontade de quem o rodeia. Verdade é que Alegre, procurando afirmar-se como independente, mostrou ser mais capaz que o candidato do "aparelho partidário" e a "guerrilha" teve os seus frutos...pelo menos morais. Uma verdadeira postura de Estado e um planeamento mais atempado e cuidado e os resultados com certeza seriam diferentes.
O povo é soberano. A ver vamos se é também sábio...

segunda-feira, janeiro 23, 2006

e o que tem de ser tem muita força

Algumas coisas, por minha parte, a dizer:

1 - Cavaco por pouco não perdeu as eleições (por apenas 0.6% dos votantes, convém não esquecer)

2 - Alegre ganhou a Soares, nada mais que isso. Não vejo consequências da sua candidatura, excepto um enorme mal-estar dentro do PS - nada que o tempo não cure.

3 - Louçã afunda-se (com alguma surpresa para mim, não contava que se afundasse tanto). Acabou de facto o estado de graça do Bloco.

4 - Jerónimo continua a surpreender pela positiva (e ganha a Louçã)

5 - Garcia Pereira simboliza, como já disse, o baixo nível a que chegou a comunicação social (juntamente com as interrupções inacreditáveis dos discursos de Jerónimo e Alegre, e do próprio GP)

6 - Seria hipócrita dizer que Soares não merecia uma derrota destas. Porque lúcido e enérgico, teve a idade em seu abono, mas não servirá esta de clamor piedoso nem fará esconder a insultuosa campanha que protagonisou. Ele, com o aparelho socialista do seu lado, não fez melhor porque não quis.

7 - Antes Cavaco que Alegre, em Belém. Convém a Sócrates e aos portugueses, convenhamos - não imaginava diálogos fáceis com Alegre. Isso sim, seria perigoso.


Momento da noite: em Beja, Jerónimo rouba pleno a Cavaco.
Decidiram, os PSDs, festejar antecipadamente a seguríssima vitória do professor, cantando e dançando, porque não, a Grândola Vila Morena. Imaginei Zeca Afonso dando voltas no túmulo, tantas quantas deram os votos, que mudavam, logo de seguida, a vitória de lado, para o irónico lado de Jerónimo - o respeitinho é muito bonito.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

- Buck?? Mas então...?


- Sim! Este blog admite a entrada de cães! E isto não é uma boca foleira. É mesmo verdade! (ou o meu cérebro a rejeitar uma eventual vitória do Cavaco)

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Presidenciais VI - a chegar ao fim

Começo a sentir que escrevo mais por reacção do que por acção. Mas as críticas são pertinentes, quem cala, consente e o tempo não é muito. Enfim...!
Desta vez vou tentar fugir um pouco, até porque me parece que entramos em argumentos e pontos de vista já vistos e replicados. Por isso deixo apenas umas notas:
  • Alegre não tem um passado inoperante. Já deixei alguns exemplos. Uma biografia política encontra-se em http://www.manuelalegre.com.
  • Eu concordo com a dissolução da AR, no caso da privatização da água. Já o deixei escrito; também perguntei o que faria cada um de nós se tal acontecesse. Ainda não vi qualquer resposta, nem aqui, nem em qualquer outro lugar. E não vale dizer, como fez o nosso carísimo MMI, que não cabe ao PR encontrar a resposta. A quem cabe então? E o que faz o PR no meio disto tudo: assobia para o lado ou empurra com a barriga?
  • Os argumentos estão vistos e revistos: Alegre não vai salvar a pátria, mesmo que seja eleito PR, como bem espero.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

homens como lugares mal situados

Caro Bárbaro, antes de mais peço-te desculpa por ter-te chamado, por lapso, João. Desculpa (Pedro), não volta a acontecer (da Silva e Cunha).
Agora: político discreto? Inoperante, talvez, discreto é um belo eufemismo. Esteve sempre lá? Menos na votação do último orçamento - e não tem que dar satisfações a ninguém? Isto é que é dar o exemplo! (É isto que não percebo, as pessoas vêem nele "coisas" - lembro-me logo de Fátima e bato três vezes na madeira...!)
É curioso ver como Alegre orienta as suas acções medindo o grau de coragem que estas implicam. Se for arrojado, aí vai ele. Se for contra o partido, ainda melhor! Foi sempre assim no parlamento e é assim agora - ainda te lembras da birra da co-incineração, ou da actual promessa de dissolução da Assembleia caso a água seja privatizada? Alegre tem mais de radical do que de esquerda. Ainda por cima é precipitado a tomar decisões (quando as toma definitivamente, porque já vimos ser vulnerável e mudar de opinião instantaneamente - viste o debate com o Louçã?).
Outra coisa: o que é que Alegre está a fazer no PS? Se sempre esteve tão mais à esquerda do que os socialistas e se quer dar o exemplo, porque é que não sai e funda o seu partido? Eu digo-te: porque Alegre é um poeta, não é um Jorge Coelho. É um idealista de esquerda, não quer saber da máquina partidária para nada. É um lírico, um amante de Portugal e da sua língua. É um poeta, não um político.

(no título um verso do Daniel Faria)

Presidenciais V

Seguramente por lapso, o nosso querido administrador confundiu-me com um tal de João. Não sei se a confusão é lisonjeira, ou pejorativa, mas também não importa. Importa discutir ideias!
Comecemos pela questão da acção de Alegre.
Confesso que tenho vontade de inverter a questão: se Alegre não fez realmente nada (nem na campanha nem na anterior vida política), como é possível que a capa de hoje do DN avance que as sondagens lhe dão perto de 20%?
Em Portugal, a abstenção não é punida. Algum mérito os eleitores lhe hão-de reconhecer, isso é certo!
Quanto a ideias concretas, e sem lançar mão do combate anti-fascista - que ele travou até ter 40 anos de idade - parece-me que só se podem destacar as que foram discordantes do PS, sob pena de se dizer que as outras não eram dele. Um bom exemplo foi a polémica ambiental instaurada entre Alegre e o actual PM (quem diria!)?
Quando foi que houve as primeiras primárias em Portugal? Foi no PS. Quem eram os candidatos: Soares (o filho, está claro), o actual PM e ... Alegre.
Quem defendeu nessa altura um programa de governo de esquerda, muito mais à esquerda do que o do actual governo? Com a excepção de Sócrates, quem foi o candidato a Secretário-Geral do PS mais votado de sempre? Qual foi a primeira voz do PS a manifestar-se contra a retirada d'os Lusíadas do programa de português (proposta peregrina entretanto abandonada)? (a outras circunstâncias me poderia referir, mas isso implicava uma investigação luxuosa, a que me não posso submeter)
Alegre tem sido acima de tudo um político discreto. E um político que temestado sempre lá, o que é para muitos um defeito.
Mas, desculpem-me a sinceridade, tem de ser mesmo assim. Infelizmente, ainda vivemos com a ideia de que há-de vir gente nova que vai meter o país na linha.
Vivemos à espera do homem (e tem de ser homem), cuja fisionomia adivinhamos, homem íntegro e capaz de "pôr isto na ordem".
Não vou mais longe: acham António Borges melhor do que Alegre? Sim, porque um deles também se podia chamar Sebastião.
Talvez por ingénuo optimismo, não vou em messianismos, nem sebastianismos (que pena tenho de não poder agora citar o poema de Alegre que diz exactamente isto). A solução encontra-se com os que cá estão e passo a passo.
Eu não acho que Alegre seja the special one. É alguém com mérito e qualidade, que pode ajudar a "pôr ordem nisto".

Pois é verdade que Alegre é deputado desde o 25 de Abril. E há quanto tempo era deputado Sá Carneiro (o mais próximo de Sebastião que tivemos) quando foi eleito PM?

sábado, janeiro 14, 2006

a minha colherada

Uma coisa que ainda não percebi, João, é o que é que o Manuel Alegre disse ou fez (neste campanha ou na sua vida política) que gerasse esse misterioso movimento apartidário. Concretamente consegues dizer-me alguma ideia que te tenha movido, que te tenha feito optar, que tenha provocado em ti um "click" a favor dele?
Eu acho que estas eleições são, no essencial, as eleições da exclusão de partes. Vota-se no Cavaco porque não se quer votar nos outros, e vota-se no Alegre porque a campanha de Soares está a ser má demais. Não há um único candidato que tenha apaixonado os portugueses.
Cavaco é o reflexo de uma opção por quem nunca vestiu a camisola de verdadeiro político (termo que já há muito passou a ter uma conotação pejorativa). Manteve-se afastado da vida partidária e assim manteve limpa a sua imagem. O descrédito na classe partidária é-lhe muito favorável. Com a sua incapacidade comunicativa, a sua figura cinzenta e sisuda demonstrando conhecer mal o estado do país (aqueles debates metiam dó...) é de realçar que, não é, de certeza, por mérito seu que continua à frente nas sondagens.
Soares, que os media continuam ridiculamente a tratar como o grande concorrente de Cavaco, todos os dias dá um novo tiro no pé. Louçã e Jerónimo continuam a sua "luta": o primeiro pela promoção do partido (por vezes a inteligência de Louçã assusta-me por ser semelhante à de Portas; ambos sozinhos fizeram "crescer e aparecer" os seus partidos), o segundo pela "luta que continua".
Garcia Pereira é a demonstração do estado a que chegou a nossa comunicaçao social, e não deixa impune o espírito de solidariedade que todos os candidatos se gabam de ter e pregar - refiro-me aos debates televisivos em que os convidados aceitaram participar, e se da direita já nada espero, do radicalismo da esquerda de Louçã e do espírito sempre-solidário-na-defesa-dos-desfavorecidos de Jerónimo esperava muitíssimo mais.
Em relação ao Manuel Alegre, ainda um apontamento. Se por um lado é um caso inédito de candidatura apartidária e isso de facto traz uma "nova força à democracia", não concebo (mesmo!) que alguém seja deputado há tantos anos! Talvez eu seja "o crítico rezingão" e isto seja uma asneira que eu não entendi, João, mas Alegre não pode continuar a refugiar-se no 25 de Abril e na construção da democracia (que já tem 30 anos!) que no seu tom paternalisto-obsessivo defende. A democracia é de todos e sendo a Assembleia da República um dos lugares democráticos por excelência, está na hora de passar o testemunho a outros, largar o lugar! A luta anti-fascista pura e dura já morreu há muito, mas Alegre ainda não fez o luto.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Presidenciais IV

Perdoem-me a insistência, em particular o meu caro MMI, mas continuo sem ver, nestas eleições, as ligações de Alegre ao Partido Socialista .
Será da perspectiva? Talvez.
É provável que estejamos a ver a questão de perspectivas diferentes, até porque eu sempre achei, e continuo convencido de que o carro-vassoura anda atrás da caravana da Volta a Portugal!
Vou tentar adiantar-me: Alegre foi agora confrontado com a possibilidade de fundar um novo partido. A resposta foi evidente: claro que não, porque é precisamente aqui que reside a diferença. O movimento que se gerou à volta de Alegre foi (quanto a mim, até prova em contrário) um movimento de cidadãos sem tendência para o associativismo permanente.
Em primeiro lugar, porque não há (ou não haveria) um ideário que não estivesse já integrado num partido existente.
Em segundo lugar, e muito mais relevante, o que Alegre pretendeu e conseguiu demonstrar é que nem toda a participação cívica e actividade política se esgotam nos partidos. Dito de outro modo, a partidocracia não é única; reina, mas não absolutamente.
E é óbvio que o ideário de Alegre só na fronteira se distingue do PS. Mas é exactamente isso que mais o afasta desse mesmo partido: é a possibilidade de buscar as suas ideias à mesma fonte das do partido, e ainda assim actuar à sua margem.
Quanto ao financiamento da campanha, não podemos esquecer o empréstimo bancário de cerca 70 mil contos (que será pago com o que a campanha ganhar com os famosos 5% de votos).
Com 70 mil contos, eu também fazia uma campanha eleitoral. Agora só me falta história, reputação, ideias políticas claras e amadurecidas, notoriedade, experiência de campanha, apoios pessoais, entre outros de que não me lembro agora e que nem sei que existem.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Alegre...ma non troppo...

Que me perdoe o caríssimo "Bárbaro" mas com certeza que não é preciso pensar muito para descortinar que alguém que sempre esteve filiado no P.S. desde a sua fundação, por muito que se esforce (e é inegável que o tem feito, com os resultados positivos que a todos são visíveis), é indissociável do Partido e do ideário deste, embora as cúpulas partidárias não o apoiem publicamente (o que é um erro político a meu ver).
É óbvio que Alegre não tem o apoio maioritário dentro do aparelho partidário socialista mas daí a dizer que está sozinho nesta "luta" ainda vai uma distância.Basta ver Helena Roseta (e outros) em campanha com o "Poeta", adiantada em relação à comitiva, a avisar as pessoas que "Vem aí o candidato...Se quiserem cumprimentar...", tipo carro-vassoura da Volta a Portugal.
É utópico pensar-se que, em Portugal, alguém chega a candidato à Presidência da República com condições para uma campanha digna desse nome sem ter apoios partidários, a nível local ou nacional.
Quanto a soluções em questões-limite como a privatização da água, provavelmente a melhor solução não será a mais radical, a chamada "bomba atómica", uma medida drástica que só deve ser tomada em casos excepcionalíssimos como a ausência de maioria estável no Parlamento ou quando essa mesma maioria não corresponda já à vontade popular. A estabilidade de uma democracia deve ser sempre prioritária, não pode nem deve ser posta em causa senão em situações extremas, caso contrário, passe-se de vez para um sistema presidencialista. Talvez o melhor seja ter um pouco mais em conta a Constiutição, que o Presidente jura cumprir e fazer cumprir...
Quanto à solução neste caso, com certeza que não é ao Presidente nem a nós que cabe encontrá-la. Ao Presidente caberá antes criar, atempadamente, condições para que essa solução surja tranquilamente e envolta o mais possível em consensos, de modo a impedir que a economia ou a confiança nas instutuições democráticas seja ainda mais posta em causa.
Seja como for, à margem de tudo isto e rindo-se tranquilamente enquanto o "circo pega fogo", Cavaco vai ganhar facilmente este desafio. Basta-lhe aparecer e tentar não falar demais porque, infelizmente, a alternativa está cada vez mais longe de se constituir como viável. Comparem-se acções de campanha e a receptividade que é dada a cada candidato, com alguns a cancelarem comícios na praça da vila por falta de público, para recolherem à sede de campanha, enquanto outros são recebidos em apoteose, por onde quer que passam...parecendo que não, a menos de duas semanas da decisão, tudo conta, principalmente a imagem... Estou a aguardar, ansiosamente, o comicio de Jerónimo de Sousa no Pavilhão Atlântico.
O que é inacreditável e até incompreensível é o facto de, apesar de um partido de Esquerda ter a maioria absoluta no Parlamento, nunca antes a Esquerda ter estado tão fragmentada, com as evidentes vantagens para a alternativa de direita, o verdadeiro oásis no meio desta "guerra dos mundos", numa altura em que, com certeza, o eleitorado priveligiará a tranquilidade e o supra-partidarismo (aparente ou não...).

sábado, janeiro 07, 2006

Presidenciais III

Direito de resposta - Nesta eleição presidencial, Alegre aparece completamente afastado do PS. Admito que não se concorde, mas então pedia que me mostrassem os pontos de contacto entre os dois!

Que Alegre é socialista, não há dúvida.
Que Alegre, nestas eleições, é uma pedra no sapato socialista, parece-me pacífico.
Que o PS desejava que Alegre não se tivesse candidatado, ou que agora desistisse para Soares, também me parece pacífico (se não acreditam, perguntem ao Jorge Coelho e ao outro da empresa de sondagens, que vai iniciar um processo de recuperação de empresa no dia 22).
Portanto, é minha opinião que Alegre está a milhas de distância do PS, nestas eleições - e só nelas.
Quanto à privatização da água, vale dizer que foi o único candidato que disse o que fazia, em concreto. Não o vi fugir à questão.
Já agora, o que faríamos nós no papel de Presidente da República? Pois é...
Ou concordamos, e fim de conversa, ou que solução encontraríamos?
Reparem que, no dia seguinte, Jerónimo e Louçã propuseram uma coisa diferente: um movimento nacional contra a medida (se não me falha a memória)! Isto tem tanto de curto como de vesgo!
É curto, porque não se percebe o efeito que teria o movimento nacional. Seria idêntico à contestação ao Código do Trabalho? Ou seria idêntico à contestação ao acto marcial de Barroso nas Lajes? Foram eficazes, não foram?
É vesgo, porque não percebe que o tal movimento nacional pode ter já começado aqui - com um candidato a PR que ameça dissolver a Assembleia. Que bela proximidade entre eleitos e eleitores!


O post - Adoro a sensibilidade política de Cavaco Silva: não é que o homem insiste que a sua campanha de uns poucos milhões de euros não foi paga pelo PSD?
Então por quem foi?
Se fosse o PSD, nós já sabíamos ao que eles vinham.
Agora, quem serão os altruístas que andam a financiar o professor? O que quererão eles em troca?
A última sondagem da Universidade Católica dá maioria absoluta a Cavaco e o segundo lugar a Alegre. O mais interessante é ver que cavaco sobe dos 57% para 60%, e que tanto Alegre como Soares baixam.
Eu não quero ser derrotista, mas a sondagem foi feita nos dias 03 e 04 de Janeiro; nesta altura, a campanha estava a meio gás, por causa da interrupção do Natal; e Cavaco sobe?
Será que, quando os candidatos nos entram casa adentro, nós nos deixamos convencer, mas que, quando tudo acalma, ficamos com a inevitabilidade de Cavaco ser o próximo PR?
Nada disto; só uma coincidência!

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Balanços...

Num ano em que tanto aconteceu e numa altura do ano em que é preciso encher mais de uma hora de telejornal diário com notícias que simplesmente não interessam nem ao Menino Jesus, já todos os balanços que podiam ser feitos o foram.
E a mim apetece-me falar de algo que não ouvi referido em nenhum: a forma brutal como foram assassinados vários polícias no cumprimento do seu dever na Cova da Moura e na Amadora e como ninguém sequer se deu ao trabalho de tentar descortinar como, em pleno séc.XXI, as nossas forças de segurança ainda são sujeitas a tamanhos riscos quando tal poderia ser facilmente evitado.Falo nisto também porque foi algo que me bateu à porta com grande estrondo e levou um amigo meu que vivia cada dia como se fosse o último e se entregava de corpo e alma à sua profissão de que orgulhosamente se gabava.
Tudo começou com uma simples operação de rotina. O plano era identificar um sujeito tido como suspeito que se sabia estar na Cova da Moura. Infelizmente os agentes iam desprevenidos relativamente à perigosidade do suspeito, treinado no manejo de armas e em técnicas de combate e armado com armas militares inacessíveis no próprio mercado negro, o que se revelou fatal.
Será que alguém se questionou como foi possível tal acontecer? O problema é que poucos sabem das condições em que estes agentes trabalham diariamente.
Todas as despesas, inclusivé com o seu fardamento e com a própria viatura, são suportadas por eles, o intercâmbio de informações com outras forças policiais, que em casos como este se podem revelar vitais, é reduzido ou mesmo nulo, chegando por vezes a ser impossivel, como por exemplo em situações de emergência em que não há sequer acesso imediato a informações fidedignas sobre os próprios suspeitos, o seguro de vida é uma realidade bastante turva e um colete à prova de bala é uma miragem inacessível à carteira de muitos...como o meu amigo, que andava a poupar dinheiro para comprar um.
Dou por mim a pensar: como será a sensação de ter como profissão a salvaguarda da segurança de outrém quando sabemos de antemão que a nossa não é minimamente salvaguardada?Algo vai terrivelmente mal quando se permite que uma situação perversa como esta se arraste sem solução à vista.
Tudo correu bem enquanto as notícias eram "frescas", tudo ia mudar, choveram promessas...O tempo passou e nada mudou.
Numa altura em que se tanto se fala nas tragédias que se passam ou passaram lá fora, tanto se vai passando cá dentro que simplesmente deixou de ser noticia...mas a memória permanece.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

The Brick Testament


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